“Zagallo morreu” tem treze letras

Eterno já era há muitos anos, mas o corpo padecia pela idade e claro, um dia precisava se despedir. Ninguém fica para semente, como dizem os antigos e que saudade lembrar do velho lobo. A primeira estrela, a de 1958, carrega muito de Zagallo. No momento em que a Suécia abriu o placar na final, certamente houve quem se desesperasse com a fama de vira-latas achando que morreríamos mais uma vez na praia. O fardamento na cor azul do manto de Nossa Senhora, foi honrado e começava uma história bonita e vitoriosa da seleção de futebol do Brasil. O supersticioso e então “formiguinha” mais tarde se tornaria o “velho Lobo”: o primeiro a conquistar a taça do mundo como jogador e também como técnico.

Essa semana o PVC “Paulo Vinicius Coelho”, colunista no portal UOL, disse algo incrível: “o mundo da gente morre antes de gente”. Eu empresto aqui as palavras do colega para dizer que se percebe mesmo que tudo que a gente conhece vai indo embora. Os pais, aquele tio que você gostava tanto, aquela vozinha que fazia a macorronada, os seus ídolos, o camisa 10 dos sonhos, etc. A ampulheta não perdoa e a areia vai se esvaindo. Deve ser por isso que eu procuro comprar o que tenho vontade e viajar, mesmo que parcelado o ano inteiro. O dinheiro recupero enquanto tiver saúde, mas o tempo, meu amigo leitor, não há recurso no mundo que possa comprar um pouco mais.

Zagallo morreu, mas Zagallo viveu também com treze letras, falando tanto da “amarelinha” e lembrando que “Brasil Campeão” possui a mesma quantidade do número que tanto gostava. A Copa de 1998 trouxe uma amarga derrota na final. Zidane fez a gente chorar, mas lembro dos cabelos de Zagallo brancos esvoaçantes com o vento e ele caminhando de um lado para o outro. Lembro das defesas de cinema feitas por Taffarel e de gritar tanto que sequer recordo como cheguei a esquina da Tabelião Passarella com a Antonio de Oliveira para comemorar a vitória.

Aquele dia foi nossa final. Podia ter terminado ali e nem precisávamos ouvir:“Allez le bleus, Allez les bleus, Allez les bleus”.

Não gosto nem de lembrar, mas quem é que gosta de perder? Mas de vencer, Zagallo foi o que mais tinha garra, ímpeto e aquela vontade que tantas vezes falta não apenas no futebol. Não se conformava em ver a seleção canarinho sair de campo derrotada, fosse como jogador, fosse à beira do campo na equipe técnica, ou como no penta, torcendo na frente da televisão como um mortal. Mortal é que nunca foi nem nunca será Mario Jorge Lobo Zagallo. Seu legado permanecerá para que a nossa geração reencontre o caminho das vitórias e que outras estrelas possam ser bordadas no uniforme que tanto Zagallo honrou vestindo como se fosse parte de sua própria pele.

Descanse em paz e daqui, saudosos como eu, seguirão acreditando que sua trajetória seja inspiração no esporte e na vida. Soube vencer, não aprendeu perder e soube também chorar. Tanto ganhando, quanto perdendo. As suas lágrimas mostravam o tamanho do seu amor pelo nosso país e com certeza precisamos de mais gente assim. Sua luta não terá sido em vão e as glórias do futuro serão contadas passando pelas páginas que ajudou a escrever.

 

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”