Votar ou abster-se?

A cada nova eleição realizada no Brasil surgem palavras de ordem e ditados antigos, ditos como se fossem verdade absoluta. Um dos mais repetidos é, sem dúvida, aquele que exalta “a importância do voto”.

Muito se fala que o voto é o exercício democrático do processo eleitoral, que é uma das principais expressões de cidadania, instrumento eficaz contra a ditadura e por aí vai.

Neste ano de pandemia do novo coronavírus a preocupação não é com o voto de qualidade do eleitor, de bem escolher seus futuros governantes. Não! A preocupação é com a possibilidade de se registrar um recorde de abstenção, ou seja, do eleitor dar uma ‘banana’ a todo o processo e simplesmente não aparecer para, como se dizia em tempos idos, ‘cumprir com a cidadania’. Ainda mais agora, que a ausência pode ser justificada via aplicativo, facilidade destes tempos tecnológicos.

Alguns enxergam nesse instrumento uma antecipação do voto facultativo.

Seja como for, votar no Brasil está longe de ser um exercício democrático. O voto é um instrumento que garante a eleição dos poderosos, dos partidos ricos, do aparelhamento do Estado, dos que se fartam com a milionária verba do fundo partidário, cuja origem é o bolso do cidadão. Essa é a ‘democracia’ que se tem no País.

Os políticos, outra verdade inconteste, se valem dos votos dos incautos, dos ignorantes, dos que vendem o tal ‘instrumento democrático’ por trinta dinheiros. Como dizia Nelson Rodrigues, “A maior desgraça da democracia é que ela traz à tona a força numérica dos idiotas, que são maioria na humanidade”.

Partidos, políticos e candidatos não estão preocupados com uma possível participação reduzida de eleitores em novembro. Até porque, os eleitos são conhecidos pela porcentagem dos votos válidos (outra boa armadilha), ou seja, não entram nessa conta votos brancos e nulos. Portanto, os que não compareceram às cabines de votação, também não farão a menor diferença.

Questionar se haverá legitimidade dos eleitos, com esse possível cenário fragilizado de ausência dos eleitores, é mera retórica.

O que se deveria discutir, e por isso o crescente aumento de eleitores ausentes nos últimos anos, é saber se de fato o cidadão se sente representado ao eleger um vereador, um deputado. A maioria vai dizer, com certeza, que não. E sobram razões para isso.

O que muitos vereadores e deputados fazem, é defender interesses próprios, que não lhes foram conferidos pelo voto. Mas ainda assim fazem o que bem entendem.