Votar melhor

Poucas sensações são mais idealizadas que aquelas que acometem parte da população quando se aproxima o ano eleitoral. Novas esperanças, uma espécie de retrospectiva da política cujo período se encaminha para o último ano dos que foram eleitos em 2016. E sempre fica aquela certeza, meio ingênua, meio reconfortante, de que a vida vai melhorar. É preciso crer nisso, ao menos para entrar em 2020 com o otimismo que as tragédias cotidianas, pouco a pouco, nos faz perder.
Em se tratando da política local, para além das esperanças de praxe, é preciso pensar em meios efetivos de mudar os rumos das coisas. E a sugestão não poderia ser outra que aquela de renovar drasticamente os quadros do Legislativo de Mairiporã.
Não dá mais para os mesmos protagonistas de 8, 10 e até 16 anos determinarem as leis da cidade. Pessoas mais abnegadas que procurarem fotos antigas da Câmara encontrarão os mesmos quadros, talvez menos rechonchudos ou com menos tinta acaju a disfarçar os fios grisalhos.
São pessoas que se enraizaram no poder em mandatos sucessivos, na maioria das vezes orbitando em torno do Poder Executivo, quaisquer que tenham sido as bandeiras empunhadas pelos prefeitos. O exercíco da barganha, do toma lá da cá, é dando que se recebe, é praticada à larga.
Esses políticos não têm qualquer interesse e torcem para que as regras eleitorais não mudem. Não se envolvem com o clamor popular e nem entendem as angústias de suas bases eleitorais – muitos são eleitos com votação em todas as regiões da cidade.
Um incentivo para que isso tudo mude não só em Mairiporã está no fim das coligações partidárias. Se ela estivesse em vigor em 2016, pelo menos quatro dos atuais vereadores estariam ocupados em outras funções no mercado de trabalho. Ou procurando função. A expectativa é que em 2020, boa parcela dos atuais vereadores fique de fora, pelo trabalho ruim que desenvolveram ou pela falta de votos (ou coeficiente eleitoral) sem a coligação, ou ainda os dois fatores juntos.
A maioria, também daqueles que foram eleitos pela primeira vez, teve mandatos pálidos, que acostumaram com o ‘modus operandi’ do Legislativo e alguns até se confundem com o mobiliário da Casa de Leis. Um exame mais acurado revela falta de representatividade e de interesse nas causas coletivas.
A ruptura com essa letargia que impera no Legislativo impõe renovação. Não só de idade dos vereadores, mas principalmente de ideas, de comprometimento com a formulação de políticas públicas. Chegou a hora de desmantelar a engrenagem que unem os poderes, um despachante do outro.
Não é tão difícil mudar de conduta. Promessa de político é mais fácil de ser desacreditada do que aquelas que fazemos quando chegam as segundas-feiras: emagrecer, parar de fumar, começar a correr. Está na hora, definitivamente, de “votar melhor”.