Vergonha!

Nem o mais pessimista dos cidadãos poderia imaginar que o reinicio dos trabalhos legislativos em Mairiporã ocorresse da forma vista na terça-feira. O que se viu durante a discussão e votação de um projeto de autoria do prefeito, que pediu nova autorização para endividar ainda mais os cofres públicos, agora em mais R$ 10 milhões para asfaltamento de ruas, foi vergonhoso.
Uma vez mais prevaleceu a vontade do prefeito em detrimento dos interesses da sociedade, que estaria representada pelos vereadores. O projeto deu entrada na Câmara na sexta-feira, 1, quando as comissões permanentes (que por força constitucional têm que exarar pareceres que indiquem a legalidade da matéria), nem possuíam membros escolhidos. Isso ocorreu na segunda-feira, 4, data em que também o projeto não foi examinado. Claro que de forma proposital.
E a velha prática de se votar de afogadilho, sem discutir nada, imperou. Aliás, discussão de projetos em plenário não é o forte dos senhores parlamentares. Eles têm dificuldades em análises abrangentes e questionamentos pertinentes. E isso ficou ainda mais evidenciado quando o vereador Doriedson Freitas desafiou todos os demais a falar sobre o que seria votado. Silêncio constrangedor, confissão de ignorância sobre a propositura, e que por isso mesmo não deveria ter sido aprovada.
Vem daí, a prática lesiva de se encomendar ‘regime de urgência’, que substitui o interesse do povo pelos desejos dos senhores edis.
De acordo com parecer do relator especial designado durante a sessão, não se sabe se a Prefeitura tem condições de arcar com mais esse endividamento, qual o custo (juros) do empréstimo, prazo de amortização, valor das parcelas e quais as ruas que serão beneficiadas com a pavimentação prometida.
A expectativa de que mudanças ocorreriam no Legislativo neste ano pré-eleitoral foram frustradas de tal maneira, que ninguém tem mais dúvida sobre o comportamento da maioria dos vereadores: vai seguir atrelada ao Executivo e defender os interesses do prefeito. Afinal, em ano pré-eleitoral, onde acomodar apadrinhados e correligionários políticos que estão acomodados no quadro de comissionados da Prefeitura?
Não foi só o Senado da República que ofereceu à Nação um espetáculo ridículo, degradante. A Câmara de Vereadores também teve seu dia de Senado.
O que se viu terça-feira é o retrato fiel da política que se pratica na cidade e dos políticos que tem.