Vereadores figurantes

Desde que foi empossada, em janeiro de 2017, a composição legislativa de Mairiporã optou por integrar, de forma inconteste, a base de sustentação do prefeito. E a cidade, que já tinha um problema crônico em relação aos seus ‘representantes’, passou a ter dois: 1) o pacto cego de apoio ao Executivo em troca de cargos para cabos eleitorais na esfera da Prefeitura, e 2) o prosseguimento dissonante entre a agenda dos senhores parlamentares e os pleitos populares. O resultado disso é a prevalência dos interesses pessoais e partidários, em detrimento dos anseios da sociedade.
Em Mairiporã, há muito tempo, vereadores perderam qualquer chance de protagonismo para se tornar meros despachantes dos assuntos do andar de baixo do Palácio Tibiriçá, que vem a ser a sede do Executivo. Muitos deles preferem atuar no varejo, trocando miudezas urbanas (podas de árvore, buracos em ruas, colocação de lombadas) pelo aval acéfalo a todos os pedidos do Executivo. Tudo, claro, em troca de muitos cargos comissionados.
Mesmo que se recorra à memória, é difícil lembrar a última vez em que os vereadores assumiram a dianteira de um fato de notório interesse coletivo, com espírito democrático e desprendimento partidário. E nem é bom falar em oposição, que nunca existiu. Ou seja, denúncias sobre o que está errado inexistem.
E neste momento vivenciado pela cidade, uma anomia administrativa, a oposição ganharia muito se falasse a mesma língua e tivesse coragem de agir.
O espírito de indignação do povo, que mobiliza segmentos sociais desde 2013, não alcançou os vereadores. Nem os recados claros, hoje rapidamente colocados nas redes sociais, frutificam. O governo municipal (Prefeitura e Câmara) segue analógico, lento, burocrático e alheio ao que pensa a coletividade. O prefeito foi eleito pela terceira vez, cuja legitimidade não se pode por em xeque, mas isso se deu muito pela fragilidade de seus adversários do que por méritos administrativos. Mas viu o apoio popular se liquefazer em dois anos.
Essa rejeição tende a se espalhar para sua base de apoio na Casa de Leis. Se mantida a lógica das urnas em 2016 e 2018, a renovação do parlamento (como se viu em níveis local, estadual e nacional) poderá ser grande daqui a dois anos, e o êxito dos vereadores atuais estará intimamente ligado à sua capacidade de demonstrar equilíbrio e independência.
Para o bem e para o mal, o padrão de escolha dos agentes políticos vem mudando ano a ano – o recado das urnas chega a ser um grito estridente, mas os vereadores, como se fossem eternos onde estão, fingem não ouvir.