Ver

Se você é um leitor recorrente desta coluna, pode se lembrar de tuma ou outra vez em que citei como uma das minhas vontades mais estranhas durante a infância era a de usar óculos.
Não por precisar, e sim por apenas considerar um acessório bonito, que acrescentaria alguma coisa no meu visual. O tempo passou e há alguns anos percebi que as letras estavam ficando mais distantes, embaralhadas. Comecei a usar óculos. Não posso mentir e dizer que uma parte de mim não ficou satisfeita com a realização do desejo do eu mais jovem. Contudo, não demorou muito tempo para perceber que carregar um objeto na cara durante o dia inteiro pode ser incômodo por milhões de motivos.
O fato é que outra perturbação relacionada ao uso de óculos vem me perturbando recentemente. Já faz quase três anos que os uso e minha visão, sem eles, definitivamente foi tomada pelo astigmatismo.
Não, essa reflexão não é sobre problemas de saúde ou problemas de visão. O que me incomoda realmente é a perspectiva de que nunca mais vou enxergar o mundo do jeito que enxergava antes do problema se desenvolver, fisicamente falando. Assumo que não sou informado o suficiente para saber se existe cirurgia corretiva para o meu caso, mas isso não muda nada. Não é angustiante saber que algo é definitivo, que não é passageiro e que não existe a opção de voltar a ser como era antes? Mesmo que escolhesse não voltar, ter a opção faz toda a diferença.
A saída, única, é se adaptar. Porque a vida é movimento, porque as coisas mudam, a gente queira ou não. Porque voltar atrás, muitas vezes, simplesmente não é uma opção. O que nos resta, senão seguir em frente?