Vamos falar de hipocrisia

Epígrafe:

Já não tenho dedos pra contar
De quantos barrancos despenquei
E quantas pedras me atiraram
Ou quantas atirei

(Tudo bem, Lulu Santos)

Em algum momento da vida já fomos vítimas da hipocrisia ou fomos hipócritas. Em tempos de redes sociais, com tantos agindo como se fossem juízes de fato, fazendo julgamentos e popularizando essa mania de apontar para o outro sem olhar para si próprio. A psicologia, por diversas vezes, comenta a respeito do universo de sentido em que humanamente ao olharmos para alguém ou algum fato, automaticamente pensamos algo.

E o que pensamos se distancia da realidade à medida que há um espaço entre o que é real e que se avalia superficialmente da condição de alguém ou de uma situação. A ciência descreve emoções imediatas na convivência e que são atividades cerebrais que nos impulsionam para o julgamento. Depois deste processo emocional, surge a reflexão racional e a reflexão.

Sem dúvida, as emoções governam os nossos julgamentos e uma vez que estas surgem com intensidade, não há racionalidade capaz de contê-las. É preciso pensar a premissa do termo hipocrisia pensando a alcunha dada na antiguidade aos bons oradores e atores, conhecidos por hipócritas. O problema aí já surge: afinal, aparece a figura da máscara. E quantas máscaras somos capazes de vestir durante a vida ou somos incapazes de notar nas pessoas que convivem conosco.

Eu fico com o olhar de quem aprendeu a ver sem pressa e se acostumou a olhar com demora. Todos possuem suas vidraças e o que vale no final das contas é o desejo sincero de querer ser melhor. Sempre gostei de quem chega sorrindo e interessado no que vem pela frente.

Quem gosta de passado é o diabo e quero mais desse plantio para colher o doce sabor da consciência tranquila em um fim de tarde.

No teatro se diz que que “personas somos” e deixo isso apenas para os dias em que percebo que o café precisou de mais pó e menos açúcar, mas que apesar disso agradeço e digo que ficou ótimo. Chamo de mentira da elegância. As outras máscaras já não me servem e quem vestir a sua, cuidado: o tempo tudo revela. Eu não pago mais para ver.

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb