Um leão por dia

A vida é cheia de desafios. O título desta semana é literalmente um dito popular. Dias de luta, dias de glória. Enfim, nesses tempos de tanta loucura, compromissos na agenda, mensagens instantâneas pululando no celular sem que seja possível zerar, responder, corresponder às expectativas alheias.

Qualidade de tempo é um desafio, como também é uma guerra equilibrar a vida nos dias de gente doente, tirando a própria vida ou perdendo para as doenças e a violência. Olhando pela janela, na metade de outubro, reflito a escassez do bom senso, onde o volume do aparelho eletrônico pouco importa se incomoda o vizinho, desde que atenda a futilidade dos ruídos vazios e ouvidos carentes.

Não estou azedo leitor, mas vamos lembrar também da maldade praticada por inveja. Pouca gente que fica feliz por sua vitória. Sem estômago para puxa-saco. Desses, também já mencionei aqui. A rede social para tanta gente é meio que o muro das lamentações e desabafos.

Deve faltar coragem de falar na cara e o feed na página social parece ser mais adequado para uma indireta, que o alvo, com um pouquinho de ocupação, nem vá ler, caso não seja bloqueado. Acho digno de uma análise antropológica, gente que manda recado para quem bloqueou e não vai ler, talvez esperando que os amigos elogiem, confirmem, confortem.

Apesar da loucura, muitas vezes também não tenho o que fazer, ou então estou tão cansado que prefiro não concluir. Deixo para o outro dia, ocupando meus últimos minutos consciente, para ouvir algo de bom debaixo do travesseiro, que me leve a adormecer e descansar.

Não sei você, mas por vezes morro de raiva, pois fico sonhando com os afazeres do outro dia. Essa noite levei minha moto para revisão e quando o relógio despertou percebi que o dia nem havia começado e que a tarefa ainda estava por fazer. Deve ser a tal da ansiedade que falam. Coisa moderna, que meus avós morreram sem conhecer.

A vida era tão difícil no trabalho braçal das antigas olarias e no rio abaixo. Penso que não dava tempo de pensar em insônia. Trabalhar e descansar me contaram que era sagrado. Como sagrado era viver e as diferenças não se publicava em timeline. Além disso, palavra valia mais que papel e leão era como rei: posto quando morto.

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb