Nem nos sonhos mais recônditos se imaginaria uma final de Libertadores entre os dois clubes mais vitoriosos do futebol brasileiro. Equipes que fizeram embates memoráveis, capazes de matar de infarto, ainda dentro dos estádios, torcedores mais fanáticos, como em 1958, quando 5 não tiveram tempo de ser socorridos, no famoso 7 x 6 para o Santos. Naquela tarde, no Pacaembu, o Santos fez 1 x 0, o Palmeiras empatou, fez 2 x 1, o Verdão empatou, chegou a 5 x 2 ao final do primeiro tempo. No retorno a campo, o Palmeiras não só chegou ao 5 x 5, como virou para 6 x 5. Mas o Peixe foi buscar o empate e a vitória por 7 x 6. Realmente, para poucos corações. E por incrível que pareça, Pelé, que naquele ano foi artilheiro do Paulista, com 58 gols, fez só um, o primeiro.
Santos e Palmeiras, hoje, 17 horas, decidem o título mais cobiçado das Américas, a Libertadores, e não poderia ter melhor palco: o Maracanã, que um dia já foi o maior do mundo: onde aconteceu a maior tragédia do futebol nacional, a perda da Copa de 1950, diante dos olhos incrédulos de 200 mil pessoas; onde Pelé marcou seu milésimo gol e onde santistas e palmeirenses também tiveram momentos de glória.
Santos – Foi num Maracanã com 90 mil torcedores, em 19 de setembro de 1962, que o alvinegro fez o jogo de ida da decisão do Mundial Interclubes. Venceu por 3 x 2, e confirmaria a conquista em 11 de outubro, no Estádio da Luz, em Portugal, com uma goleada de 5 x 2.
Em 16 de novembro de 1963, o público no Maraca foi ainda maior, 120.451 espectadores, para a terceira e decisiva partida diante do Milan, também pelo Mundial, que deu o bicampeonato ao peixe. Termo usando muito na época, até chegar a esse dia, Santos e Milan travaram batalhas ‘sangrentas’. No jogo de ida, em Milão, 4 x 2 para os ‘rossoneros’, com dois gols do brasileiro Amarildo. No jogo de volta, 4 x 2 para o alvinegro da Vila Belmiro. Pelé, machucado, ficou fora da decisão e o único gol, heroico, que deu o bicampeonato ao peixe, foi do lateral Dalmo.
Palmeiras – Embora menos internacional que o Santos, o Palmeiras também teve seu momento de glória no maior estádio do mundo, quando conquistou a Copa Rio 1951, torneio que a Fifa insiste em não reconhecer como Mundial de Clubes.
Naquela edição, quando ainda não havia a Champions League, ou seja, o continente não tinha um campeão europeu, vieram ao Brasil a Juventus (campeã italiana), Sporting (campeão português) Nice (campeão francês), Estrela Vermelha (campeão iugoslavo), Áustria Viena (campeão austríaco) e Nacional (campeão uruguaio). Pelo Brasil, Palmeiras e Vasco da Gama.
E o Verdão levou 100.093 torcedores no jogo final, contra a Juventus, e o empate em 2 x 2 garantiu o título, pois na primeira partida o Palmeiras havia vencido por 1 x 0, com direito a arbitragem francesa.
Santos e Palmeiras tem motivos de sobra para se orgulhar do Maracanã e voltar nele, décadas depois, para uma decisão histórica.
Hoje – Se nem mesmo nos sonhos mais recônditos se imaginaria uma final entre Santos e Palmeiras, também não há quem ouse apontar um favorito no confronto de hoje.
Para chegar a essa condição, derrotaram outros gigantes do futebol sul-americano, casos de Boca Juniors e River Plate.
De se lamentar apenas a ausência de público, por conta da pandemia. Seria inesquecível ver o Maracanã dividido ao meio com as torcidas do alvinegro e do alviverde.
Ao final de 90 minutos, a Libertadores e o Brasil terá ou um tetracampeão (Santos) ou um bicampeão (Palmeiras). Seja quem for o vencedor, a conquista é mais que merecida. (Wagner Azevedo – Fotos: Divulgação)
O Santos campeão em 1962: em pé, da esquerda para a direita, Lima, Zito, Dalmo, Calvet, Gilmar e Mauro Ramos; agachados na mesma ordem, Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe.