Um ‘7 de Setembro’ que ficará na história

Normalmente comemora-se a Independência do Brasil, mas, desta vez, ficou no ar um clima de instabilidade democrática causando inseguranças e dúvidas de suas consequências. No enredo dos bolsonaristas, expectativas de golpismo, na dos opositores, sinal de alerta e no final, pelo menos por enquanto, temos mais um acordão que ficará na história.

Sem dúvida alguma o Brasil tem inúmeros problemas a resolver pelos governantes, mas nesse 7 de setembro o que importava mesmo era a disputa pelo poder. Pior de tudo, a qualquer preço.

Voltando aos problemas que impactam no cotidiano dos brasileiros, temos em destaque a Covid-19, o aumento dos preços dos combustíveis, o aumento da inflação e a crise hídrica.

Por consequência, analistas apontam recessão em 2022. Quanto ao altíssimo índice de desempregados, deixo para outro momento.

O Brasil já atingiu mais de 21 milhões de casos registrados de Covid-19 e perto de 590 mil óbitos. Precisa de imediato acelerar a vacinação para atingir a meta satisfatória de imunidade coletiva anunciada por especialistas, de no mínimo 70% da população. Com os desencontros do Ministério da Saúde, com poucas vacinas aqui e acolá, em oito meses foram vacinados com duas doses apenas 30% da população. Lembrando que a primeira dose aplicada foi em 17 de janeiro deste ano.

O combustível tem aumentado pela desvalorização de nossa moeda, segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, “pela instabilidade política o real sofre com a insegurança dos investidores em relação ao destino da política econômica do governo”. Por consequência, com aumentos de preço do combustível todos os outros produtos aumentam. “E aí?”

A inflação em alta leva o consumo para baixo. As famílias estão pressionadas pela alta dos preços dos alimentos, energia elétrica e combustível. Diante dessa situação a vulnerabilidade social brasileira só aumenta. Milhares de pessoas vivem em condições precárias de moradia e saneamento, sem possibilidade de acesso aos meios de subsistência. Por consequência, cresce a vulnerabilidade social e a fome no Brasil.

A crise hídrica provocada também pelos desmatamentos desenfreados da Amazônia entre outros biomas, a tal ‘abre a porteira’ do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, vem dando resultado, pois está impactando nos recursos naturais brasileiros como também contribuindo no aumento da energia hidrelétrica que utiliza o aproveitamento da energia cinética contida no fluxo de massas de água, hoje com menos de 10% de volume.

Tais problemas estão deixados de lado na pauta prioritária do governo federal.

No ato político-eleitoral protagonizado pelo presidente no feriado de 7 de setembro essa situação ficou muito clara.  Por ter se tornado um ato tendo como pano de fundo a ameaça de golpe, a grande surpresa foi ter ocorrido dentro de uma normalidade inesperada. Temia-se que as possíveis violências durante os atos poderiam ser utilizadas pelos golpistas como álibi para uma intervenção. Esse cenário vinha sendo desenhado, mas, pelo menos desta vez, alguns atores fundamentais apoiadores do presidente se mantiveram “dentro das quatro linhas”. Sendo assim, essa possibilidade de intervenção ficou adiada, mas fica o alerta!

Por consequência, no dia seguinte ressurge na pauta o ‘impeachment’, pedidos engavetados na Câmara Federal. Com o sinal amarelo acesso ressuscita-se no terceiro ano o ex-presidente Temer, agora como consultor do presidente. Diga-se de passagem: o ex-presidente tem experiência em lidar com ‘impeachment’. Na sequência surge a “Carta à Nação” anunciada pelo presidente com ajuda de Temer. Para os oposicionistas soou como um ‘me engana que eu gosto’ e para os situacionistas como deslealdade do líder. Nos resta acompanhar cenas dos próximos capítulos porque o jogo está e continuará sendo jogado. Escrevo esse artigo na terça feira, dia 14 de setembro.

Para os analistas políticos de plantão sem o golpe e a possibilidade de abertura do processo de impedimento do presidente surge o clássico ‘acordão’. Mais um para a nossa história, agora, quanto aos reais problemas vamos continuar aguardando.

 

Essio Minozzi Júnior é professor de Matemática e pedagogo. Pós-Graduado em Gestão Educacional – UNICAMP; Planejamento Estratégico Situacional – FUNDAP- Administração Pública-Gestão de Cidades UNINTER; Dirigente Regional de Ensino DE Caieiras (1995-96), Secretário da Educação de Mairiporã (1997-2000) e (2017-2018), Vereador de Mairiporã (2009-2020)