Enquanto boa parte dos eleitores brasileiros continuarem possibilitando governantes populistas usurparem feitos alheios como se fossem sementes seus estaremos fadados ao fracasso.
No início desta semana a pauta politiqueira está destacando o feito da transposição do São Francisco como se nada e ninguém nunca procurou soluções para a seca nordestina. Sendo assim procurei mais detalhes a respeito.
Por incrível que pareça a transposição do rio São Francisco surgiu no período do império, a mais de três séculos. Existem registros de ocorrência de secas no nordeste do país desde o século 17 e o poder central português já planejava meios de combatê-la, como registrou o pesquisador Francisco Jácome Sarmento (1). “A primeira aprovação de verbas para combater consequências de secas deu-se pós-independência (1822), resultante da grande estiagem de 1824-35” (2)
Nesses três séculos vários governantes planejaram ‘socializar’ as aguas do ‘Velho Chico’ (3), entretanto, tal iniciativa somente saiu do papel em 2007. No mês de agosto daquele ano, foram iniciadas as obras dos canais de aproximação no Reservatório de Itaparica e em Cabrobó, os mesmos locais de onde o governo imperial pretendia captar água. A conclusão da transposição estava originalmente planejada para 2012, mas atrasos mudaram a data para 2022.
Durante esses três seculos diversos presidentes da republica se debruçaram em amenizar a seca nordestina e suas consequencias regionais. Sabe-se que durante na ditadura militar o coronel Mário Andreazza tinha um projeto para a execução da transposição do São Francisco que envolvia, também, os rios Parnaíba e Tocantins com custo de US$ 3,3 bilhões, entretanto, ficou no papel como tantos outros.
Com a seca do início dos anos 1990 o presidente Itamar Franco apresentou projeto semelhante ao de Andreazza, porém a seca terminou em 1994 e o projeto não saiu.
O presidente Fernando Henrique Cardoso, com a seca de 1997 a 1999, autorizou projeto de transposição do São Francisco. Contudo, havia uma outorga da Agência Nacional de Águas para usar 300 metros cúbicos por segundo para um megaprojeto de irrigação, e assim não seria possível captar mais água sem comprometer o funcionamento da Hidrelétrica de Sobradinho. A polêmica durou até o final do seu governo.
Na última terça feira, em agenda no Nordeste, o atual presidente visitou uma estação e acompanhou o acionamento das bombas em Salgueiro (PE). Depois, participou da inauguração do Núcleo de Controle Operacional da transposição do rio São Francisco. O presidente tem ampliado a tentativa de obter a “paternidade” das obras, que foram iniciadas em gestões anteriores.
Durante discurso, o mandatário classificou as estruturas como “fantástica” e “vultosa”, e afirmou que “honrou compromissos.”
“Só tem noção do que foi feito aqui quem realmente enxerga uma obra dessas”, disse (4).
Tenho que concordar. “Um povo que não conhece sua História está fadado a repeti-la. ” (Edmund Burke)
1.Escreveu na obra “Transposição do Rio São Francisco – realidade e obra a construir”.
2.Impériohttps://apublica.org/2014/02/transposicao-um-projeto-dos-tempos-imperio/
- Forma carinhosa de referência ao rio São Francisco.
4.https://noticias.r7.com/brasilia/no-nordeste-bolsonaro-inaugura-transposicao-do-sao-francisco
Essio Minozzi Júnior é professor de Matemática e pedagogo. Pós-Graduado em Gestão Educacional – UNICAMP; Secretário da Educação de Mairiporã (1997-2000) e (2017-2018), Vereador de Mairiporã (2009-2020)