No sábado dia 15, a página pessoal do Prefeito estampava com orgulho e direito a pagamento por visualizações, a notícia de que a companhia elétrica retirara o famoso poste que por nove meses esteve, digamos: no meio do caminho da estrada da canjica. Houve quem se recordou de uma antiga capa de jornal em que o mesmo Prefeito no ano de 2009, ao lado do então Governador tucano e de um ex-vereador, anunciara a chegada do asfalto por ali. Ocorre que a canjica ficou na terra mesmo até outro dia e quando virou asfalto, ganhou de brinde o tal poste no meio do caminho.
O fato pitoresco, além de meme na internet, inspira lembrança ao poema de Drummond; não só por paráfrase, mas por suas motivações. O famigerado poste da vila de Juquery ganhou espaço na mídia depois de uma chamada televisiva que ironizava o número de meses que levaria até o nascimento de um “postinho”, decorrido o tempo de gestação sem a retirada ao término da obra. Causou estranheza o fato de que depois da chamada e da repercussão, a reportagem completa não foi ao ar, ainda que daquela emissora, faça parte um certo xerife que anda por essas bandas manifestando apoio a continuidade do governo nipônico, seja ele nissei ou mestiço mesmo.
Verdade é que não teve graça o susto que um casal de idosos passou ao colidir com seu veículo contra o poste. Apesar do susto e sem ferimentos, a fiação danificada provocou curto circuito e descargas elétricas. Pânico para o casal que felizmente e que se saiba, gerou apenas o prejuízo financeiro. Contraditório, mas providencial, a imagem do acidente se espalhou pelas redes sociais e finalmente o problema foi resolvido. O Prefeito, que segundo ele, não era o pai do poste, se adiantou no nascimento da notícia e ganhou uma enxurrada de críticas. Deve estar levando até agora. Diz a lenda que o boleto do parto vai chegar ao erário municipal e que a conta fica dinovo para o povo.
Nos tempos da revista antropofagia, a pedra no meio do caminho foi uma referência crítica a resistência parnasiana representada por Bilac em contraponto ao ímpeto do modernismo brasileiro em sua primeira fase de vertente crítica e revolucionária. Se no meio do caminho em 2020 tinha um poste, deve ser porque outras pedras ainda estão por aí atravancando o desenvolvimento nessa nossa terra de retinas fatigadas pela velha política, onde ninguém tem culpa. Coitado do Padre Genésio que por vezes não deixam descansar em paz, atribuindo tudo a sua suposta maldição. Os vivos que se cuidem. Essas notícias correm mais que no tempo das revistas e novembro vem por aí.
Luis Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb