Se eu disser que se foi, terei dito uma grande mentira. A julgar pelo choque da notícia, por tantas manifestações, pelas lágrimas e pela imensa saudade, eu tenho certeza que permanece. Ficou em nós e por onde deixou esquecida alguma terna lembrança, seus valores, sua família, amigos e quem como eu, teve o privilégio de se sentar nos bancos escolares e aprender com a mestra. Não deu tempo de dizer à professora que andei costurando umas linhas, metaforizadas em uma colorida colcha de retalhos da qual ela faz parte e que está se tornando um livro que também dedicarei a ela. De contar que minha vida ficou marcada por ter se costurado à sua nos tempos em que passava uns domingos caprichando na letra, para que na segunda-feira estivesse perfeita a lição.
Me recordo seus olhos buscando meu lugar no canto junto à parede e dizendo meu nome para que levasse a lista de superlativos para correção. A tinta vermelha passando nas folhas, os óculos apoiados no nariz e esboçava algum sorriso, fazendo com que meu medo se transformasse em um imenso e eterno carinho. Reflexo do cuidado com que nos orientava por entre as paredes da escola Hermelina, onde passei tantos anos e guardei da infância essa mania de escrever uns versos e transbordar um pouco do que se passa aqui dentro.
Ah, Professora! Que pena não estarmos juntos daqui a pouco para conhecer o livro que estou preparando. Acredito que iria se sentir bem orgulhosa. Outro dia nos vimos e como sempre saudei sem saber que neste plano seria a última vez. Mas o encontro é ali. Logo mais poderemos falar a respeito, tenho certeza! Nossa fé assim nos ensina e na glória onde já está, estarei eu um dia e fique à vontade para me dizer se gostou do que escrevo aqui.
Dezenove de abril começou estranho e deixei escapar umas lágrimas quando a gente se juntou para orar pelo seu descanso. Me refiz e sai atravessando a rua para continuar enfrentando o mundo. Lembrei que certa vez pediu que eu esperasse ao término da aula. Quando ficamos a sós, me alertou sobre uma má companhia. Coisa que mãe faz. Coisa que uma sábia mestra faz pelo bem de um aprendiz. Ouvi seu conselho e tento me lembrar dele todos os dias, já que outros maus também de vez em quando se achegam.
Eu não me esqueci, professora, e ainda faço o mesmo. Me afasto de quem não me conhece, olha rápida demais e não quer o meu bem.
Minha oração e gratidão pela sua vida e pelos ensinamentos que deixou!
Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb