Não foi a primeira vez que esqueci a carteira na casa de outra pessoa. Contudo, em nenhuma outra situação, um lapso de esquecimento me causou tanto problema. Isso porque, justo naquele dia, eu havia deixado junto com ela o meu bilhete único. Para completar, a bateria do meu celular não estava em seus melhores dias.
Tudo começou quando estava saindo da casa de uma amiga, e fui para realizar a filmagem de um projeto. Enquanto andávamos pelas ruas do Ipiranga, gravando algumas cenas aqui e ali, deixei minha carteira dentro da mochila dela. Algumas horas depois, na hora de ir embora, resolvi chamar um daqueles carros em aplicativos de celular. Até aí, tudo bem. Me despedi, desci os andares até o térreo, sai do prédio. E então, meu celular desligou. Sim, de repente, sem avisos ou motivos, por conta própria. Eu assumo que sabia que sua bateria não estava passando muito bem já havia algum tempo, mas não esperava por essa morte súbita.
A minha dúvida era: o carro chegaria mesmo sem o celular estar ligado? Preferi não arriscar e voltei para a casa da minha amiga. Quando entrei no elevador, lembrei que havia esquecido o carregador do meu celular lá. Aproveitei para ressuscitar o pouco de bateria que ainda restou. Dessa vez, foi ela que pediu o carro do aplicativo para mim. Achei que tudo estava certo quando entrei no carro e fui em direção ao metrô.
Foi só em meio ao caminho que me lembrei da carteira. Então, percebi que, mesmo chegando à estação, não teria como entrar no metrô. E o celular, como antes, morto. Meu primeiro momento de sorte foi aquele em que voltei e recuperei o carregador do meu celular na casa da minha amiga. Agora, poderia ligar para alguém, pensei. Porém, as tomadas da estação não funcionavam – e olha que tentei todas.
Nesse momento, já estava conformado com minha nova condição de pessoa perdida longe de casa. Foi então que, como uma luz no fim do túnel, achei uma única tomada escondida em um cantinho da estação. Foi esse o segundo momento de sorte, pois aquela última tomada me salvou de passar a noite no metrô.
Algumas vezes, a sorte está do nosso lado, mesmo quando achamos que tudo está dando errado.
