Há uma necessidade urgente de a sociedade brasileira voltar ao caminho “normal”.
Este caminho inclui: 1) um crescimento robusto da produtividade do trabalho a qualquer coisa como 3% e 4% ao ano; 2) com plena liberdade de iniciativa de todo cidadão e aumento da igualdade de oportunidades; 3) solidária com os que, objetivamente, não têm plenas condições de participar com a sua força de trabalho e 4) sustentável não apenas no aspecto ecológico, mas no equilíbrio interno (taxa de inflação e juro real parecidos com os parceiros internacionais), no equilíbrio externo (déficit em conta corrente sob controle e financiável) e no equilíbrio fiscal: superávits primários para sustentar a relação dívida/PIB com folga suficiente para o exercício de uma política anticíclica.
A nação está estarrecida. Um incesto entre o poder incumbente e parte do empresariado produziu um monstro teratológico: o “poder econômico” submeteu aos seus desejos parte significativa do Poder Legislativo e do Poder Executivo, pelo financiamento criminoso das “campanhas eleitorais”, que foi transformado em “investimentos” de alta taxa de retorno econômico! E, por via indireta, estendeu o seu poder a parte do Judiciário, que é submetido à aprovação do Legislativo e que depende de promoção pelo Executivo.
Anulou-se, assim, o instrumento de civilização do capital inventado para dar “paridade” de poder ao trabalho por meio do “sufrágio universal” sem a influência do capital. O mais grave crime cometido nessa apropriação foi ter posto em risco o próprio regime democrático, pelo qual, infelizmente, ninguém será apenado!
Mas é preciso reconhecer que são dois problemas distintos. A economia padece do mais profundo voluntarismo econômico que precedeu a eleição de 2014: a tragédia fiscal que nos devora e deixou como herança 14 milhões de desempregados e cuja superação depende de um mínimo de organização política que possa sustentar as “reformas” propostas pelo governo Temer.
Por outro lado, é preciso deixar claro que não foi o Ministério Público que produziu o incesto: a Lava Jato apenas expôs os intestinos daquela relação espúria. Pode até ter contribuído com alguma redução do crescimento no curto prazo, mas seus resultados serão um importante fator de aceleração do crescimento econômico no futuro.
Neste momento, a intriga em Brasília está mais ou menos desativada, o que exige imaginação da imprensa. Talvez fosse bom ela sugerir aos três Poderes da República que sentem-se à mesma mesa com o “livrinho” na mão, para acertarem sem os desejos de “expansão” da autoridade e dedicarem-se à solução do problema político. Só esse entendimento salvará a democracia…