Só os loucos sabem

Se eu fosse elencar as razões das minhas dores de cabeça profissionais, apenas por um exercício antropológico é claro, já que na menor distração, ainda que seja por um gato passando no chão, logo me esqueço. Longe de mim ficar remoendo aborrecimentos com fatos ligados a essa natureza. De qualquer forma, vamos lá! No topo da lista: os vaidosos. Esses me dão mais trabalho, já que o ego lhes furta o senso a ponto de enlouquecerem na busca pela paternidade das coisas.

Eu faço, eu sei, eu consegui. Eu, eu, eu, eu. Os vaidosos também são os ciumentos. Precisam ser carregados no colo. Acho que devem sonhar todas as noites, que estão em praça pública sendo levados nos ombros e ovacionados pelos seus feitos, dos quais se orgulham e trancam em uma gaveta bem funda para que ninguém descubra a fórmula. E quem quiser comentar a respeito, que dê os devidos créditos e que estes sejam em letras garrafais, para o tamanho de sua necessidade de aparecer.

Depois vem a burrice. Os burros são constituídos por dois grupos: os puxa-sacos e os vagabundos, isto é, os que conseguiram um espacinho por sentarem na janelinha do barquinho em que o vento batia mais forte e os que não tem outra profissão que não seja a do oportunismo.

O que há de ambíguo nisso? A vontade dessa gente de ser chamado de chefe e a incapacidade técnica, profissional e ética para qualquer coisa que exija saber ao menos se uma palavra possui ou não a cedilha.

Por fim, vou chamar o último grupo de: emocionados e injustiçados. Saem atropelando tudo e todos e nunca se sentem valorizados. Sempre falta alguma coisa. Por mais que se faça por eles, ainda que recebam, nunca está bom. É fácil a identificação, pois normalmente dizem que os que não agem como ele não são humildes. Lambem as botas dos patrões e me enojam.

Eu respiro fundo e me faço de louco. Machado evocaria o alienista e não haveria quem ficasse da porta para fora do hospício. A cidade ficaria deserta e nos faltariam as camisas de força. Os loucos sabem!

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis