Sena do Brasil

Como é tradicional, a cidade de São Paulo recebeu no final de semana uma prova do mundial de fórmula 1. Interessante como as coisas mudaram e as redes sociais é onde realmente ficamos informados. Antes eu passava a semana toda vendo as informações pela TV, desde a chegada das carretas desembarcando no autódromo os veículos e equipamentos. Hoje em dia, são os aplicativos e redes sociais as fontes. Programação em TV aberta é raridade na minha casa e também deve ser na sua.

Me chamou a atenção ler que o público foi muito grande. Sinal de que o brasileiro continua apaixonado por automobilismo apesar de décadas sem surgir um novo campeão. Neste ponto é que surgiu a vontade de escrever. Estava passando pelo trecho de um vídeo onde milhares de pessoas tremulavam suas bandeiras e subi o volume para entender o que diziam, imaginando que seria uma referência ao inglês Hamilton, tão identificado com as cores do Brasil, mas na verdade o que ecoava era o mesmo canto das vitórias brasileiras em Interlagos: Olê, Olê, Olê, Olá…Sena, Sena!

Fiquei arrepiado e refleti o quanto que um ídolo de verdade é imortal.  Ayrton continua entre nós nesses jovens que estavam lá e que sequer haviam nascido quando ele partiu. Sena foi uma liderança tão marcante que é provável que não tenha tido tempo de perceber o quanto despertava em nós o orgulho de ser brasileiro.

A mesma quantidade de títulos mundiais de Nelson, mas a família Piquet não tem ídolos. Já Ayrton Sena deixou um legado. Marcado como um mito.

Muito difícil passar por uma imagem dele sendo reprisada, sua voz e suas vitórias sem que fiquemos emocionados. Em um final de semana de grande prêmio, logo recordamos aquela vitória em casa, com apenas duas marchas em que trouxe o carro com destreza até receber a bandeirada. Uma força descomunal e as câimbras nos braços, que só mesmo um atleta de ponta seria capaz de suportar. Lembro bem a dificuldade até mesmo para suspender o troféu por sobre sua cabeça. Recordo o gesto de pegar a bandeira brasileira ainda dentro do carro e do povo invadindo a pista para comemorar. Bons tempos que deixaram muita saudade e que tornam a minha geração sortuda por ter acompanhado tudo isso.

Infelizmente não surgiu alguém que pudesse subsumir a altura a importância do piloto herói, mas cada vez que ouvimos o ronco dos motores e uma bandeira quadriculada tremulando, somos remetidos a saudade do nosso eterno campeão.

 

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”