Semancol não é neologismo

Pois é, semancol existe e tem como sinônimo o termo desconfiômetro. Ainda que você digite algum destes dois vocábulos na tela, seu corretor de texto possa sublinhar, creia! As palavras existem e dão mesmo conta da capacidade que o indivíduo tem de perceber quando está sendo inconveniente. Interessante, não é mesmo? Conheço tanta gente que precisa de semancol, que se fosse uma peça que pudesse ser encomendada pela internet para chegar em poucos dias sem frete, mesmo sem cupom de desconto, eu faria esse investimento, mesmo que nessas lojas chinesas.

Compraria para presentear algumas pessoas. Tem gente que ou não desconfia ou se faz de tonto, só pode. Eu teria vergonha e vergonha é algo que minha mãe dizia que eu deveria ter na cara. Tantas vezes eu precisei ter ouvido minha mãezinha e não o fiz. Não foi assim o tempo todo a ponto de sentir remorso, já que pude chutar para longe umas dezenas de pessoas chatas.

Ando meio na reciprocidade e acho engraçado quando sinto diferença no tratamento quando do outro lado há interesse. Interesse é uma palavra cruel. Logo me lembra de utilidade. Quando sou útil, desperto interesse e interesse leva a bajulação.

Há momentos em que tenho certeza que devo ter um rosto meio imbecil. Vejo este motivo como o único plausível em alguns dias para justificar umas mensagens que recebo. Compartilhar com você, caro leitor, é uma satisfação, pois reflito ao mesmo tempo que descarrego na ponta dos dedos em contato com os teclados as minhas tensões.

Eu não faço tudo esperando algo em troca, eu juro! Na maior parte do tempo estou mesmo de coração aberto e minha alegria é o sorriso alheio por algo bom que eu tenho feito ou tenha dito. No entanto, aprendi a política da reciprocidade. Todos precisamos uns dos outros e para cada pancada eu filtro, mudo de assunto ou simplesmente bloqueio. Pior que tem sido cada vez mais indolor.

Devo estar ficando velho e rabugento. Outra coisa que tenho me divertido e aprendi vendo uma amiga, é sobre o tal de se fazer de desentendido. Tão gostoso isso. Equilibro para não me entregar ao cinismo, mas não abro mão, pois é uma arma psicológica poderosa contra os espertinhos.

Confessando, quando o jornalista responsável deste jornal me manda mensagem logo cedo, eu trato de ativar meu semancol e perceber que ele está com pressa e trato logo de escrever meu artigo semanal. Bravo ele se torna, uma fera. Se bem que ultimamente está mais para o amor que para o rancor.

Brincadeiras e confissões à parte, descobri que há quem passe a vida toda sem se dar conta mesmo. Neste caso, distância é o melhor remédio e minha ausência é meu presente íntimo e pessoal de paz e liberdade interior. Em inglês descobriam gramaticalmente o jeito perfeito de expressar quando se é fazedor e receber de algo: “by my self”.

Quando precisar, aconselho que ative seu semancol. Tudo está sempre evidenciado. Nós é que insistimos e gostamos de mentir para nós mesmos. Um pouco de verdade e desconfiômetro fazem verdadeiros milagres.

 

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”