Outro dia trintei. Como passou rápido. Já estou na reta final da década e no ano que vem serei quarentão. O tal do: ‘parece que foi ontem’ a cada dia se encaixa mais no meu cotidiano. Você que também passou ou passa pela sensação, deve me compreender bem.
O primeiro ato de Hamlet, descreve que a natureza ao fazer-nos crescer não só nos favorece em forças e tamanho, mas à medida que o tempo vai passando, dilata com ele o espaço interno da inteligência e da alma.
Tenho gostado bastante desta minha nova versão, revisada e um pouco ampliada. Claro que também falo de uns quilinhos a mais – que sempre atribuo ao casamento – mas falo também da capacidade que o passar dos anos vai deixando esquecida nos gestos da vida. Na habilidade que vai se materializando e tomando forma definitiva no comportamento. Acho que maduros, podemos mesmo ficar mais interessantes. Menos efervescências e mais racionalidade para depositar energias onde e em quem realmente importa.
Lendo a peça, recordo os conselhos de Polônio a seu filho Laerte e vou aprendendo a não expressar tudo que penso, buscando ouvir a todos, mas falar com poucos. Ser amistoso, sem ser vulgar. Valorizar amigos testados, sem oferecer amizade a qualquer um que surgir pela frente. Sigo evitando qualquer briga, mas se preciso for, causo verdadeiro temor aos inimigos. Se eu conseguir a risca, encontrarei dia após a dia a retórica perfeita nos meus dias corridos para desfazer o poder do mal, embaraçar toda inveja e desatar os nós que se apresentam desde o amanhecer.
Plantei esses dias. Plantamos os nossos e neste jardim as sementes me permitiram chegar ao trigésimo nono ciclo. O filho do carpinteiro José tornou-se Mestre entre as nações, mas trilhou seus passos até estender os braços e no horizonte traçar o sinal da aliança de salvação. Ele tinha uma certeza que também possuo: sigo meu rumo levando também as minhas cruzes, sendo eu para ser livre e provocar liberdade onde chegar.
Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb
