Respostas aos caros leitores

A audiência deste jornal é imensa, acredite! Estou feliz por tantos questionamentos a respeito do conteúdo do livro que lançarei no próximo mês.  Para chegar no volume eu precisei visitar as dores antigas. Adentrar os porões da inconsciência. Me saber como naqueles dias em que eu idealizava pisar o chão de estrelas daquela velha canção.  Nem piso havia, nem paredes essa casa tinha e eu já morava de noite, nas chuvas, no frio de neblina que eu lia nos livros.

Do pátio da escola Hermelina eu vi um mundo novo na fila do primeiro dia. Professora Aldaíze mostrando cada parede, cada cantinho. Que linda essa sala eu pensava e cada vez que passava na avenida em frente, queria alguém comigo, só para dizer: “Eu estudo aqui!”. De tarde todo mundo queria ir até a Rua Ipiranga para comprar uma folha de almaço, um lápis talvez, desde que fosse na papelaria da nossa amada Professora.

Hoje em dia, quando estaciono no pátio da igreja matriz, desço em direção à Rua XV de novembro lembrando de quando eu marchava trajando a rubra farda da Fanfahap nos dias em que ressoava forte nas paredes o som das cornetas e o comércio saia as portas para admirar os meninos da terra ocupando alinhadas fileiras e deixando de ser um a mais nas esquinas.

Descobri que poeta era gente que nem a gente, no dia que vi os poetas de outro volume, a coletânea “Ventania” no distante ano de 1995. Foi o fio da meada desse sonho que hoje é possível ler as linhas e folhear os detalhes.

Tomei das sofisticadas taças acadêmicas. Descobri as semânticas do que eu experimentara desde cedo e que na Universidade ganhou nome, definição e classificação. Provei das literaturas em noites antigas em que me sentava com Neruda, dialogava com Fernando Pessoa e namorava quase todas as mulheres descritas por José de Alencar. Montei uma grandiosa caixa de ferramentas com o mestre Machado de Assis. Morri de amor por Vinícius de Moraes e continuei vivendo.

Mas voltando as feridas, são delas que tive que buscar a matéria prima para terminar essa obra. Não se trata de vaidade, mas de querer partilhar um pouco de mim com alguns dos quais cruzei nessa estrada. Através de imagens e textos não apenas compuseram comigo essa obra, mas adornaram meus afrescos com suas bordas generosas de talento.

Eu só quis juntar os retalhos, costurar cada um deles na tela do computador e ver impresso, gravado para sempre. Ser um pouco imortal como aqueles que eu admiro e que gritam nessa multidão que há dentro de mim. Vagar por entre inspirações como quem sai sem rumo trajando o leve tecido de quem se libertou.

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb