Rede de boataria

Foi numa noite de céu estrelado, em 1938, portanto no século passado, que os Estados Unidos tomaram ciência da mais célebre de suas histórias, contadas através da rádio CBS (Columbia Broadcasting System). Pegou o povo de surpresa e foi contada após a interrupção da programação musical: a notícia era de que marcianos haviam invadido a Terra.
O amigo leitor imagina uma notícia como essa, em 1938, quando o rádio reinava absoluto. O relato parecia verossímil. Ninguém duvidou. O relato tinha riqueza de detalhes sobre a tal invasão e se apercebeu tratar-se de uma peça de radio-teatro. Estimativas apontam que um milhão de pessoas acreditaram ser tudo verdade.
Até que o mal-entendido fosse desfeito, houve pânico e várias pessoas, desesperadas, tentavam fugir de carro por rodovias.
Com proporções ainda maiores, esse quadro se repete nos dias atuais, através das redes sociais, pois qualquer informação se alastra em questão de segundos. Pode não parecer, mas estamos vivendo situações de pânico coletivo por conta de boatos, e ninguém se preocupa com a origem ou o conteúdo. Assume-se como verdade e a propagação ganha amplitude. Não há compromisso com as consequências. O acesso rápido às informações e a facilidade em nos comunicarmos são boas ferramentas, porém a maioria a transformou num monte de lixo, em que a irresponsabilidade prospera a cada segundo. Joga-se o nome de quem quer que seja na lama, mesmo sabendo trata-se de inverdades.
Em Mairiporã, antes, durante e depois das eleições municipais, uma enxurrada, ou melhor, um dilúvio de mentiras foi assacado contra muita gente, sem um mínimo de verdade. O mais interessante nisso tudo, é que os achincalhadores de ontem, viraram telhado de vidro agora. Quem berrava, até uivava nas redes sociais, agora está escondido, talvez blindado por algum cargo público. Quem mentiu e difamou antes, agora experimenta do mesmo veneno.
Se as pessoas continuarem a agir por impulso, por vontade própria ou de quem sempre se utiliza da tática de ‘bater com a mão dos outros’, sem o necessário discernimento, dará muita contribuição para que verdadeiras tragédias venham a acontecer, com danos até irreparáveis. Com razão diz-se que as redes sociais são o penico do mundo.