Recomeços do cotidiano

Observo a chuva caindo lenta, deslizando pelo vidro espesso que me protege falsamente dos perigos lá de fora. A proteção é falsa, como também não são verdadeiros tantos olhares que eu encontro.

Como diz a canção: “eu queria entender porque se agridem, se empurram, para o abismo, se combatem sem saber”. O conceito filosófico de ser pessoa é ser dono primeiro de si mesmo para depois se disponibilizar ao outro. Por que tanta gente não se pertence? E será que eu sou dono de mim?

O céu branco esconde as nuvens de hoje de manhã nesse fim de tarde de dezembro, e as portas do verão eu paro para olhar a velocidade dessas gotas, dessas águas, enquanto me refaço do que ainda em mim não é afeto preenchido.

Falta-me inspiração e me sobram motivos para navegar nas águas mansas de tantas memórias. Assim, dou alento à alma e vou me sentindo menos objeto. Vou entendendo que passará minha utilidade e restará meu significado e que isto somente deve bastar!

Essa chuva, que é passageira, relembra que daqui a pouco é outro dia e que o valor vai nascer em mim primeiro antes de nascer no outro, e que algo de bom que ainda não conheço já me move.

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb