Razão

Tem coisa melhor do que soltar um grande, forte e imponente “eu te avisei”? A sensação é tão satisfatória que há inclusive quem se deixa vencer em uma primeira discussão, para depois ter o prazer de dizer que estava certo. Chamo isso de “o prazer de estar certo” e, depois de mousse de maracujá e torta de limão, é uma das grandes delícias da vida.
Mas não podemos nos esquecer que tudo tem dois lados e o que é bom dura pouco e frequentemente o prazer de estar certo pode se virar contra você. Comigo, por exemplo, acontece sempre. A última vez não faz muitos dias. O que acontece é que sempre reparei e falei que meus pés eram levemente tortos. Não tortos completamente, mas um pouquinho, mais inclinados do que é considerado normal. Notava isso, por exemplo, por nunca conseguir deixar os pés retinhos sem dificuldade. Mesmo assim, a minha queixa nunca foi levada a sério.
Pois bem! Anos depois começo a sentir uma estranha dor no pé ao levantar. Ainda, começo a perceber que a dor não dura um ou dois dias, mas sim algumas semanas. A princípio ela vinha e passava rápido, nem chamava atenção. De tempos em tempos passou a se tornar um incômodo cada vez maior. Obviamente fui ao médico. Isso porque estava com medo de ser algum problema relacionado à coluna, nunca se sabe. E foi quando ele disse: toda a dor e problemas gerados estão diretamente relacionados ao fato de meu pé ser levemente torto.
Vitória! Afinal, comprovei que estava certo o tempo todo, não é mesmo? Falei e repeti para quem quisesse ouvir: “lembra quando falei isso? Bom, eu tinha razão”.
Vitória? Bem, a dor continua presente e a suposta vitória não mudou isso. Os prazeres passam, e as dores ficam até que alguém faça alguma coisa para resolvê-las.
Isso porque não se dá para viver de razão. E, às vezes, estar certo nem vale tanto a pena assim.