Quem poderá nos defender

Mairiporã é uma das muitas vítimas da Sabesp quando o assunto é preservação ambiental. A cidade tem pouco mais de 30% de rede de esgoto, o que agride os mananciais e a sustentabilidade. Nem por isso a empresa foi incomodada ou chamada a pôr fim no problema nos últimos trinta anos.
Enquanto isso, outros municípios tratam de colocar ordem na casa: em Santos, a promotora de Justiça Nelisa Olivetti de França Neri de Almeida, do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema), ingressou com uma ação civil pública contra a Sabesp para que a estatal trate adequadamente o esgoto gerado na parte insular de Santos e São Vicente. O material é lançado no mar pelo Emissário Submarino. Muito parecido com Mairiporã, cujo esgoto produzido é jogado em córregos e rios.
Também em Biritiba Mirim áreas de proteção dos mananciais passam por rigorosa fiscalização, através do mesmo Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente (Gaema), órgão ligado ao Ministério Público.
Claro que em Mairiporã os abusos não se limitam à Sabesp, que ainda assim segue como a maior poluidora. Outros setores da sociedade também contribuem para que o meio ambiente sofra agressões constantes. E o cardápio não é pequeno: áreas invadidas, desmembramentos proibidos, desmatamentos, esgoto a céu aberto a poluir nascentes e pequenos córregos e áreas degradadas que deveriam ser intocáveis, integram a triste paisagem de um município que briga, há muitos anos, para se transformar em cidade turística.
E a julgar pela falta de interesse de se fiscalizar Mairiporã, os riscos de novas invasões e nenhum investimento em rede de esgoto levarão a cidade ao caos, ainda que contemplada por uma natureza privilegiada.
O distrito de Terra Preta, que hoje concentra 1/3 da população mairiporanense, não tem um metro sequer de rede de esgoto. E não se vê nenhuma movimentação nesse sentido, o que prenuncia que aquela região vai ficar ainda um bom tempo sem esse serviço básico. Em pleno século 21, é bom repetir, Mairiporã tem pouco mais de 30% de rede de esgoto, mesmo estando a 20 minutos da maior cidade da América Latina.
Há outras questões importantes ligadas ao meio ambiente que também merecem citação, como a extensão dos danos causados pelas ocupações irregulares em áreas de mananciais e de risco de desmoronamento, como o que foi registrado em março último, e que infelizmente matou dez pessoas.
A cidade de Mogi das Cruzes também chamou a atenção do Ministério Público, que impôs severa fiscalização em suas áreas de preservação.
Mairiporã, que tem alta taxa de natalidade, portanto sujeita a loteamentos clandestinos, está sem nenhuma ou quase nenhuma ação de defesa de seus mananciais.
Parafraseando um seriado da tevê, fica a pergunta: “E agora, quem poderá nos defender?”

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