Quantas vezes a gente deixa de cultivar vínculos afetivos e vai se esquecendo do outro. Divórcio não acontece só entre marido e mulher. Ocorre também com bons amigos que não semeiam bons momentos, mesmo que seja a distância. Proximidade não é sinônimo de cuidado. E distância não é desculpa para deixar de lado o plantio nos vastos campos de almas que se querem bem.
Triste ver pais se divorciando dos filhos. O meu se divorciou antes mesmo que eu tivesse consciência de mim mesmo. Tão cedo que nem me dei conta. Com os anos, fui me acostumando a perceber que havia sempre uma lacuna nos documentos. Mas, também vejo divórcios de pais que não se foram, mas que debaixo do mesmo teto deixaram imenso abismo. A ponto de serem totalmente estranhos. Um não conhece o outro.
Colocou no mundo. Sabe o nome, mas não se conhecem mais. Falo mesmo desses divórcios que o cartório não registra, quando se desfaz um matrimônio civil. Me refiro a estes que o cotidiano revela que o divórcio aconteceu. Triste quando a palavra do pai, já não exerce mais autoridade no coração do filho. Autoridade afetiva que o tom de voz dos que se amam, reconhece de longe. O que nos torna pais e mães não são gritos e sim o vínculo. Elo não surge por decreto. Nasce no tanto que a gente ama, cresce pelo tanto que a gente cuida e se dedica sem se cansar.
Mesmo sem me ver, minha mãe continua preocupada comigo. Se me alimentei, se estou bem, se estou por perto. O amor pede proximidade e o resto é conversa fiada.
A família deixa de existir quando as pessoas deixam de se cultivarem. E olha que sangue do sangue não significa muita coisa se não estiverem fixadas as bases do que faz o laço sanguíneo ter sentido. Senão, a vida fica cheia de parente e não há família. Quantas vezes a gente tem mais proximidade com alguém que não tem parentesco algum, mas que apesar disso, o cultivo é mútuo e o vínculo duradouro.
A vida vai ficando tão distante que vamos perdendo a capacidade de ser irmão, de ser filho, marido, esposa, de ser gente importante. Importar significa trazer para dentro. E só está do lado de dentro quem não se descuida do que une e fortalece, sem tornar os dias a prática repetitiva de viver por viver. Para os que quiserem e estiverem por perto para notar, vou tentar até o último dia fazer desta a minha herança. Um vínculo verdadeiro de amor em comunhão para eternidade.
Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb