Quem gosta de passado

Acho grosseiro quando alguém diz que quem gosta de passado é museu”. Toda vez que a gente generaliza é injusto e lembrar de fatos ocorridos, por exemplo, deve passar por um filtro em que deve estar segmentado de modo muito claro, o que é bom e o que é ruim. Os erros recordamos para não voltar a cometê-los e os acertos para aperfeiçoar a fórmula de qualquer sucesso, não importando o tamanho dele.

O grande problema é que há quem só pense no passado, só fale do passado e pior, coloca sua vida no passado. O cemitério não pode ser um local que os vivos devam frequentar por banalidade. Não é como ir até a padaria e voltar com meia dúzia de pães quentes. Aniversário de morte não pode ser mais importante que a alegria de continuar vivendo ao lado dos que amamos.

Não há reflexão pior do que os saudosos que juram que na sua época o mundo era melhor. Guilherme Arantes foi sábio quando disse que “o melhor vai começar”.

Quando eu era jovem, pensava como jovem e agia como jovem. Estou bem orgulhoso chegando na curva do fim da década e beirando os quarenta. Não sei se a genética que é boa, mas nem tenho tantas rugas. As que surgirem me deixarão satisfeito de estampar o quanto eu avancei e expor que tudo que sou e tenho, obedecem a uma sequência quase lógica do caminho que percorrem os que lutam.

Me considero um desses. A vida sempre foi luta e nada caiu no colo. Meio ridículo quem tem vergonha da idade e quer parecer ter menos. Debaixo do sol há um tempo para cada coisa e é tempo de pensar e agir como quem já sabe que faz tempo que passou da metade, ao menos na média. A não ser que “talvez eu morra jovem em alguma curva do caminho”, parafraseando o bigodudo Belchior.

Ando prometendo aquele livro, que nem chegou já será meu olhar para o passado. A colcha de retalhos foi formada e é tempo de explicar como foi costurada e de que são feitos os fios dos tecidos. As partes são um todo dos fragmentos que se misturaram para que olhando para eles, ressuscite sempre a alegria de brigar de peito aberto por um futuro mais bonito.

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb