Que seja eu

Por essência temos uma natureza extremamente simples. Não importa origem, a profissão que seguimos ou a maneira que vivemos. Ainda que a vida tenha sido generosa com a mais alta sorte de recursos, bens e cargos, o cerne é definitivamente simples. Tudo isso porque não são os bens materiais, mas sim as pessoas que nos emocionam, que nos inspiram e nos movem no final das contas.

Só a maturidade, e nem sempre a idade, é capaz de evidenciar a importância do caminho e não do destino final. Pouco tempo depois de conquistar um lindo carro, já queremos outro. Cada um pensa o destino de uma maneira. Uns acreditam que podem mudar as coisas através de decisões, mas é certo que as vidas podem mudar a qualquer momento e quando menos a gente espera.

Tudo é absolutamente efêmero, tanto os momentos bons, quanto os ruins. A única constante é sempre a mudança. Tudo é muito breve e, não importa a idade, é sempre possível e necessário ressignificar as nossas vidas, recheando os nossos dias com outros desafios. Enxergar as oportunidades e mudar até mesmo os valores, não podem acontecer somente no momento em que a vida humilhe com a doença ou a morte.

Aproveite o momento e escreva algo de bom para algum amigo ou familiar. Faça uma visita a alguém que pode estar te esperando há muito tempo. Talvez te aguarde por décadas e não tenha parado para pensar. Talvez espere tanto que nunca chegue o dia. Um bilhete ou uma simples frase dirigida a um colega de trabalho pode fazer muita diferença. Olhando para o lado mais íntimo, sabemos bem o que nos move e o que nos devolve a energia para dar o próximo passo.

A vida precisa de mais gratidão da nossa parte e que a gente devolva no mundo um certo reconhecimento por poder acordar, já que isso é um grande privilégio. Está cheio de gente querendo um estímulo e um simples abraço. Será que sempre vamos deixar para depois? Tomara que não, já que depois pode ser nunca. O tempo é implacável e não pode ser interrompido. Os dias jamais se repetem e como dizia Mario Quintana: a vida é uma tarefa a ser feita. Quando virmos já não será mais outubro e logo a frente nascerá outro ano. De repente terão passados mais dez ou vinte e não nos damos conta que as pessoas vão indo embora de modo que seja sempre tarde para voltar atrás.

Que a gente não pare de fazer alguma coisa que seja desafiadora, que nos dê medo ou prazer por falta de tempo. Que a gente não pare de ter o prazer de alguém ao lado ou prazer na solidão. Rapidamente os nossos filhos já não serão nossos. A mania de deixar tudo para depois como se fosse o melhor, nos cega para a realidade de que pode ser tarde. Depois a vida acaba e o legado que fica é que vai ficar guardado no coração das pessoas.

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb