Que país é esse?

Cantava Cazuza nos anos 1980, com letra de Renato Russo (1970) que percorre de norte a sul o país denunciado: “Nas favelas, no Senado. Sujeira pra todo lado. Ninguém respeita a Constituição. Mas todos acreditam no futuro da nação. Que país é esse?”

Estimado Cazuza! O país continua com as desigualdades sociais e, evidentemente, educacionais! Essas afirmações estão fundamentadas em dados recentes do IBGE.

Em 2019, o PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – indicou que 42,7 % dos brasileiros se declaram como brancos, 46,8% como pardos, 9,4% como pretos e 1,1% como amarelos ou indígenas. O Brasil é predominantemente de pardos e pretos (56,2%).

Na última sexta feira (11), o IBGE informou que a taxa de pobreza das populações preta e parda é duas vezes maior do que a população branca. Na pobreza recebem US$ 5,50 por dia, a taxa de pretos e pardos é duas vezes maior. Entre brancos era 18,6% e entre pretos o percentual era de 34,5% e pardos 38,4%. Na extrema pobreza (US$ 1,90) entre brancos a taxa ficou em 5% em 2021, para pretos 9% e pardos, 11,4%. Os dados estão no estudo do IBGE de Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil.

Na Educação, Cazuza, dados de 2019, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade foi estimada em 6,6%, 11 milhões de analfabetos indicou a PNAD-Contínua. Para homens foi 6,9% e para mulheres 6,3%. Para pessoas pretas ou pardas foi 8,9%, portanto, mais que o dobro da observada entre as pessoas brancas que atingiu 3,6%. (educa.ibge.gov.br).

Algo de positivo surge na educação, a Base Nacional Comum Curricular-BNCC, desde que saia do papel e chegue no ‘chão das salas de aulas’. De acordo com a Resolução CNE/CP nº 02 / 2017 deveria estar implantada nas escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental no ano de 2020.

Cazuza, o mundo foi impactado pela pandemia da COVID-19, e no início de 2020 as escolas ficaram sem aulas presenciais até final de junho de 2021. Você pode imaginar o tamanho da lacuna na aprendizagem das nossas crianças no período, em especial, aquelas do período de alfabetização. É evidente a insuficiência da reposição daquele período com a velha estratégia da recuperação em outro momento e docentes distintos. A alfabetização requer a atenção em cada etapa de seu desenvolvimento.

Essas defasagens devem merecer atenção mais que redobrada pelas autoridades educacionais, porém, esse é um tema que merece ser tratado objetivamente em outro artigo. Não acha?

 

Essio Minozzi Jr. licenciado em Matemática e Pedagogia, Pós-Graduado em Gestão Educacional – UNICAMP e Ciências e Técnicas de Governo – FUNDAP, foi vereador e secretário da Educação de Mairiporã.