Que tristeza as imagens das cidades onde as pessoas são obrigadas a sair de suas casas e simplesmente fugir. Refugiar-se em outras terras e distante também da família, já que os homens não podem deixar o país. Suas esposas e filhos, as grávidas, os idosos, as crianças muito precocemente experimentando o amargo dos ódios, vaidades, busca por territórios e poderes. Desbravar fronteira para ter cada vez mais. O que na sociedade acontece nas relações cotidianas, se reflete a frente das trincheiras.
A gente vinha acompanhando a tensão entre os países, mas nunca quisemos acreditar que depois de tanto sofrimento em que a doença nos colocou no mesmo patamar humanamente expostos, ainda assim novamente nações semelhantes em sua origem étnica, aproximadas pelo território e idioma, pudessem se digladiar na defesa de seus interesses. Onde termina o diálogo, estouram as guerras e a história se repete. Logo a história, que dá nome a disciplina que me recordo bem questionando os professores desde o ensino fundamental, era preciso estudar fatos passados para que erros não fossem repetidos agora. Tanto sangue derramado e a humanidade pouco aprendeu.
Acompanho estarrecido as mesas de negociações esperando que a coisa toda não descambe para as temidas armas nucleares. Hoje os efeitos da calamidade correm o mundo em segundos mostrando os tanques, os choros, os estampidos que precedem a atualização da recontagem de vidas perdidas e classificadas, como se civis ou militares, fizesse diferença. Quantos jovens deixando suas casas e indo para as frentes das batalhas, como se as cores do país ou qualquer outra formalidade pudesse nos diferenciar.
Há que se lembrar que em uma guerra não há vencedores. No final das contas todos perdem. Os valores são derrotados e resta pouco de qualquer dignidade quando perece o maior presente de Deus: a vida. O mundo gira e tudo é muito rápido. Ninguém carrega o que acumula e no final tanto faz a parte do mundo em que nascemos. Precisamos um do outro e quem sabe um dia a humanidade conte da guerra como algo tão arcaico e tão impossível de acreditar, que pareça mesmo uma mentira mal contada sob uma civilização que nunca existiu.
Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb