Quando entrar setembro

Quando entrar setembro quero ser eu o portador da boa nova. Quero sair por aí com uma liberdade tão barulhenta que desconcerte aquelas víboras que ficam sentadas por ali, sorrindo para as altas patentes e pisando nos mais humildes. Quero sorrir tanto que confunda aqueles olhares e que os delas se percam com a luminosidade do meu semblante. Não há nada mais confortável que uma consciência limpa e a verdade resplandecente de quem não tem compromisso nenhum com o erro.

Tem gente que eu tenho tanto medo de dizer bom dia e no mesmo minuto me crescer uma úlcera. De tanto negativismo. Não vou ser grosseiro aqui leitor, mas de fato há pessoas que não devem mesmo ‘fazer amor’. Só pode! Uma explicação plausível para viver tão azeda.

Fato é que setembro chegou e vem trazendo uma terceira dose de reforço. Quando a gente pensa que ficou livre, tem mais essa. Impressionante também o número elevado de pessoas que não comparece para a segunda dose. A maioria acha que só a primeira já está de bom tamanho.

As temperaturas vão começar a subir e no coração da gente, vem por aí a primavera. Que traga esperanças floridas para as nossas vidas cansadas da pandemia, das distâncias, dos prejuízos, das perdas e da vida de cabeça para baixo. Que traga também um pouco de paz, embora pareça tão distante para o Afeganistão com aquele emblemático aeroporto tomado e povo desesperado.

Saudade danada de outros setembros. Acordei essa semana com nostalgia das flores. Se eu pudesse teria enchido a casa de tantas quantos pudesse, mas os anos encorpam a visão de que os vasos bonitos a gente planta com atitudes. Que as flores comuns são bonitas, mas morrem.

Claro que tudo é preciso cultivar, inclusive os bons gestos. Uso sempre essa metáfora nas cerimônias de casamento. Flores e gestos devem caminhar juntos e ter igual cuidado. A mesma vida para ser mantida carece do trato humano. Dos pequenos detalhes.

Setembro é o mês nove. Não é uma contradição. Já escrevi sobre isso, mas especialmente desta vez, parece que estamos voando no relógio. Logo falaremos de natal e a vida vai voltando para o lugar. E terá sido antes e depois da covid-19? Será que o tempo será contado desta forma ou daqui a pouco ninguém lembra e a empatia vai se tornar uma palavra usada e guardada na gaveta? Tomara que não. Se depender de mim, não será assim.

Então, aproveitemos o vento e a terra fértil e vamos plantar!

 

 Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb