Pesquisa aponta que País perdeu 4,6 milhões de leitores em quatro anos

Ler um livro não é um ato espontâneo e exclusivo de uma classe elitizada, mas um hábito cultivado em níveis pessoal e social.

A prática perdeu adeptos nos últimos anos no País. A pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, realizada pelo Instituto Pró-Livro e o Itaú Cultural, divulgada no início de setembro, constatou uma diminuição de 4,6 milhões de leitores entre 2015 e 2019. Ao estudar os hábitos e contexto social dos entrevistados, a pesquisa permite levantar algumas explicações para essa redução.

Os efeitos da crise econômica e a perda de poder aquisitivo fazem parte do contexto de diminuição de leitores. O número de pessoas que compraram um livro nos últimos três meses caiu três pontos percentuais (23% comprou em 2019, contra 26% em 2015).

É possível que o fator financeiro se torne ainda mais uma barreira ao acesso à leitura. A pesquisa revela que cerca de 27 milhões de brasileiros das classes C, D e E compraram livros. O dado contraria a declaração do Ministro Paulo Guedes, para quem os livros são um produto elitizado.

A argumentação do Ministro foi feita no contexto de críticas sobre a reforma econômica, que prevê retirar a isenção de taxas de livros. A medida pode encarecer os livros e dificultar o acesso.

A pesquisa revela ainda que, entre os não leitores, a principal razão alegada para não ter lido mais é a falta de tempo, resposta de 47% dos entrevistados.

É possível relacionar essa resposta com outro dado da pesquisa, sobre as outras atividades realizadas pelos entrevistados. O uso da internet aumentou, enquanto o da televisão caiu, deixando as duas atividades em patamar semelhante. A TV ainda é a principal atividade apontada na pesquisa, presente em 67% das respostas. Mas em 2015 a atividade representava 73%. A internet, por outro lado, saltou de 47% para 66%. Quando se olha o percentual de leitores por escolaridade, nota-se que houve queda em todos os níveis. Mas o surpreendeu mesmo foi a queda no ensino superior, de 14 pontos percentuais. Um dos achados (da pesquisa) são pessoas com nível superior que usam o tempo livre na internet, nas redes sociais. E isso certamente está roubando o tempo do livro. O correto é que se chegue a um equilíbrio entre as atividades.

O hábito da leitura só aumentou entre os pequenos. A faixa etária entre 5 e 10 anos foi a única que teve crescimento de 2015 a 2019. (Foto: Divulgação)