‘Perdendo o trem da história’

Mairiporã é uma cidade peculiar se comparada com outras da região. Talvez porque sofre com imposições ambientais (na maioria das vezes não respeitadas), porém essa desculpa é dada desde o início dos anos 1980. É com esse argumento que os prefeitos que passaram pelo Palácio Tibiriçá, ressalvadas raríssimas exceções, justificam a falta de competência em administrar a cidade. De 1997 até a presente data, a cidade não teve nenhum gestor de ofício a comandá-la.
A propalada vocação turística, por si só, não se sustenta. Não há infraestrutura mínima que possa alavancar esse potencial. A começar pelo saneamento básico. Como pode um município pretender o selo de ‘turístico’, sem rede de esgoto (mais de 60% da populão não conta com esse serviço básico) e com dezenas bairros ainda dependentes de caminhão-pipa para ter água?
Esse é apenas um, dentre muitos outros fatores, que os governantes não resolvem ou por incopetência ou por falta de volta de política.
Em muitos dos setores da economia, o que se vê, do ponto de vista empírico e prático, é que a maioria não resiste. O que isso significa? Que novos estabelecimentos comerciais, por exemplo, instalados há uma década, desapareceram. Sem ir longe, os que se instalam hoje, dificilmente conseguem sobreviver seis meses.
Por que não temos em Mairiporã uma política que consiga incentivar essas e outras atividades com garantia de renda à população? A resposta é simples: Porque os prefeitos e vereadores enxergam que Serviços e Comércio são pilares da economia local, o que não se confirma na prática. Alguns surgem e pernanecem, a maioria, no entanto, não tem fôlego para seguir, pois não há políticas públicas voltadas para essas áreas. Os prefeitos ostentam, em seu primeiro escalão, Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo, nome que muda como o vento de direção, mas que pouco ou quase nada produzem. Claro, à reboque dos governos que tivemos e temos.
Se analisarmos a última década e meia, veremos que nesse período o poder público local não conseguiu ser o fomentador daquilo que é essencial para a população. Nesse quesito, entram Saúde, Segurança, Mobilidade Urbana, Emprego e Renda. O atual prefeito, longe de ser gestor, tem visão estreita do que seja administrar uma cidade. Para ele, fazer asfalto soluciona todos os outros problemas, que vêm de décadas.
Não dá pra pensar que governar é só asfaltar ruas, tampar buracos e lidar com essas coisas pequenas. Qualquer visão estratégica hoje de gestão pública tem que ter em sua perspectiva o fato de que é preciso adensar, à capacidade deste território, novas atividades econômicas e elencar prioridades.
A vizinhança, nos últimos dez anos, se desenvolveu de forma admirável. Mairiporã patinou com a escolha de políticos para governá-la, em detrimento aos gestores. A constatação, assustadora e penosa para a população é uma só: estamos perdendo o trem da história.