É humano eu sei. A gente olha e já pensa alguma coisa. Pensa sobre a situação, a aparência e vem rápido à mente um julgamento. A velocidade para dar palpite é incrível. O olhar para o cotidiano do outro é simplista. A dificuldade alheia é moleza e até mesmo os sentimentos do próximo por vezes fica fácil banalizar.
A psicologia ensina que há uma sensível perda de sentido no caminho entre o nascimento do pensamento, até que a palavra seja dita ou escrita. Percorrido o caminho, muito da informação se perdeu ou foi proferida de modo diferente do original e quando é escrita então, a transformação é maior ainda. Haja vista relembrar a velha brincadeira do telefone sem fio. A medida que vai passando se modifica e até se perde. Se o tempo passa, talvez alguém até duvide se aquilo foi mesmo dito.
Enquanto escrevo aqui, ocorre fenômeno semelhante. É um jeito de transbordar. Escrever também é uma arte. Me surge uma lembrança interessante e logo penso em anotar, ao mesmo tempo em que estou terminando um parágrafo.
Caso eu me distraia por alguns segundos, já não me lembro o que era e lamento perder a informação. Cheguei a pensar que fosse coisa da idade, mas vendo na literatura tantos gênios comentando do poder da palavra e da vontade de agarrá-las, noto que é um esquecimento que independe de quantas primaveras já comemorei.
Escrever é uma arte. Tantas vezes uma terapia, como um modo que encontramos de ficar a sós em um universo paralelo, mas lidar com as palavras é sempre um desafio, que para este espaço vou vencendo semana a semana. Na dúvida, melhor não confiar na memória e anotar nem que seja um bilhete na porta da geladeira. Escrever eterniza!
Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb