O grande desafio contemporâneo do meio corporativo não é mesmo fomentar a vontade de vestir a camisa, ter atitude ou a chamada proatividade. O mundo corporativo anda cheio desses clichês, mas estou convencido de que desafio mesmo é dar sentido a tudo isso. Tive a oportunidade aqui de discorrer os significados do amor pelos olhos de alguns filósofos e enalteci que a alegria é o sentido do desejo.
Realizar algo com felicidade de fazer é que se torna a locomotiva impulsionadora para acordar todos os dias com fé na vida. Analisando desejo e alegria, resta olhar para o terceiro amor e quero aqui falar de espiritualidade e não de religiosidade.
Falar do amor sob o aspecto Cristão é esquecer de desejar o que não tem, ou meramente se alegrar pelo que já conquistou, já que Ele falou do amor por qualquer um. Posto isso, não é desejo, afinal não desejamos qualquer um.
Particularmente, tenho desejado estar bem longe de muitos. Tenho um amigo que anda também desejando qualquer um. Costuma me dizer que em virtude da idade chegou o período da liquidação. Brincadeiras à parte, o amor Cristão se importa mais com o que sente o outro, de forma que o amante se apequene para que o amado se engrandeça.
Aquele jovem Galileu soube desconcertar todas as convicções e compreendo hoje quando passo a noite em claro para que minha pequena filha repouse no meu peito e consiga dormir. E não me importo de trabalhar cansado e com sono desde que garanta o bem estar daquela menininha.
No mundo competitivo, não só o corporativo, mas coloco aqui também o político, onde convivo, não parece ser muito comum que alguém abra mão de alguma coisa ou se curve para que o outro se agigante. Mais normal é o contrário, onde as vaidades levam às grosserias, ofensas e ataques. A gente aprende logo que sobrevive apenas quem está com “sangue no olho”.
Jamais recuar e vencer sempre é o grande mote nas relações e na maioria das vezes, não combina muito com o amor de Cristo. Estranhamente esse amor sobrevive e não é só na minha casa nessas madrugadas últimas, mas posso ver isso no mundo. Comentei aqui sobre o acidente aéreo em Ubatuba e vi as imagens das pessoas quebrando vidros e portas para retirar passageiros e salvar vidas.
No subconsciente humano, mesmo nos maus, deve morar a gene do filho do homem e o olhar para o que chamamos de próximo. Nos dias de hospital, vi gente fazendo de tudo para diminuir a dor alheia. A dor física, a dor da perda e a dor de não compreender o presente e não ter sequer ideia de como imaginar um futuro que possa chegar.
Tenho tentado promover alegria. A alegria de ver alguma situação de um jeito novo em alguém que me ouviu dizer algo que lhe tocou o coração. A alegria de saber alguém que leu aqui umas linhas que fizeram bem à alma. Juro que há muitos momentos em que não consigo. Pois é, caros leitores, nem sempre amamos e muitas vezes os amores se vão sem que a gente tenha qualquer controle e temos que conviver com muito mais gente do que aqueles que amamos.
Há quem suportamos por ética encontrando o melhor jeito de conviver. Ah, como preciso de racionalidade e sabedoria para encontrar caminhos de não mandar alguns para aquele lugar. Seja como for, somados desejo e alegria, que possamos seguir os passos desse ano, atentos aos caídos pelo caminho e finalmente encontrar no alívio do outro, o alento para nós mesmos.
Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”