Preocupação significa aquela opinião antecipada, como uma ideia fixa e perturbadora que se torna um sofrimento. Minha mãe era assim e eu devo ter importado esse sentimento em mim, já que dependendo do que aconteça não consigo dormir pensando. Não é exatamente ansiedade. Eu chamo de processo de digestão de alguns assuntos, para usar algo análogo. Confesso que quatro décadas nas costas tem melhorado isso. Sofro bem menos e sou capaz já de ser mais dono dos pensamentos. Graças as aulas do professor Augusto Cury, mas também da espiritualidade que adquiri.
Eu não sei o que te preocupa, caro leitor, mas garanto que metade das mensagens que chegam no seu celular podem esperar e o exercício da demora fará bem as partes. Não uma demora como um joguinho bobo para se fazer de ocupado ou difícil, mas uma demora saudável de estabelecimento de prioridades. Garanto que dessa metade uma boa parcela dos pedidos das mensagens já terá se resolvido sozinha, caso você esteja ocupado para a resposta. O que pensamos urgente por vezes é só um impulso, pois a ansiedade causa preocupações que nos levam a tomar como importantes até coisas banais. Fora que costumeiramente empregamos energia em assuntos e gente que não vale a pena, por pura pressão. Particularmente, cada vez menos eu caio na pilha. O tempo tem sido meu grande ativo, mas fique tranquilo leitor, não perdi a humildade e a certeza de que para chegar onde preciso falta um longo caminho.
Preocupações tem muito a ver com telas. Perdemos muito tempo presos a elas, como se fisgados por um portal que os olhos precisam mergulhar constantemente em busca do prazer de atender as expectativas alheias e as nossas. Uma corrente que insistimos em colocar mais e mais cadeados. Os olhos da nossa geração são os maiores consumidores de conteúdo visual da história da humanidade. O grande problema é que as telas têm feito com que o contato com as pessoas importantes esteja sendo substituído pelo virtual. E virtualmente temos a falsa impressão de proximidade. No entanto, nada substitui o toque, o abraço, o cheiro e a presença. Infelizmente, cada vez mais a gente se conhece, se gosta e se encontra, mas quase sempre pelas redes sociais.
Vi recentemente sobre esse fenômeno de substituição de entes queridos. Trocas da presença pelas redes. Um afastamento imperceptível, silencioso e cruel. O nome de tudo isso poderia ser: rotina, horários, compromissos, etc. Chame como quiser, mas é fato que dizer que alguém é muito importante e amado, mas que você vê pouco, é uma contradição, já que a maneira como seu tempo é gerenciado não demonstra ou não coloca as coisas no lugar com sua devida relevância. Nos preocupamos tanto que deixamos de pensar no tempo que nos resta viver. Uma sensação falsa de que sempre haverá oportunidade daqui a pouco. Prontamente respondemos que a coisa mais importante na vida é estar ao lado de quem amamos e que os momentos mais felizes são os que estamos junto a elas. No entanto, ao mesmo tempo fazemos pouco esforço para a frequência de tudo isso.
Um instituto de estatísticas na Espanha fez um levantamento assustador para mim a para você, leitor, onde colocou frente a frente pessoas que se amam, tanto por vínculos familiares, quanto por vínculos fraternos de amizade. O objetivo era o de estimar diante da rotina apresentada, quanto tempo ainda teriam juntas no decorrer da vida. Exposto o resultado, muitos foram as lágrimas com a frieza dos números e na percepção do pouco que restaria. Exemplifico aqui um caso específico: um filho e uma mãe que se encontram uma vez por mês, caso não falhe nenhum dos meses e que desta forma, consideradas as idades e aspectos humanos de ordem natural, segundo o matemático, os dois teriam apenas mais 54 dias e algumas horas para estarem juntos antes de partirem. Claro que a vida é imprevisível e que tudo sempre pode mudar, mas a experiência desnuda uma realidade que é preciso ser refletida. O que de fato importa se preocupar e o que realmente é importante a ponto de tirar o sono, atrapalhar a felicidade e nos impedir de investir de forma valiosa o tempo ao lado de quem realmente importa e fazendo o que é realmente importante.
Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”