País de corruptos

Quando se fala em corrupção no Brasil é imperioso retroceder no tempo, mais precisamente a 1500, quando por aqui chegaram os portugueses, que logo trataram de barganhar quinquilharias com os índios que habitavam estas terras. Se não foi aí que a corrupção começou, pelo menos foi um indício do que viria a seguir.
O descalabro é tamanho, que seria muito bem-vinda uma alteração no artigo 1º da Constituição, que deveria ter a seguinte redação: “Todo brasileiro é corrupto até prova em contrário”. Pesado? Não, algo muito palpável diante do que se assiste há centenas de anos neste País vilipendiado por bandidos travestidos de autoridades. Em todas as suas esferas: Executivo, Legislativo e Judiciário.
E não há que se fazer distinção. A roubalheira só muda de mãos, dependendo de quem tem a chave do cofre: direita, centro e esquerda. E a canalhice só não é maior, porque o povo tem sua parcela de culpa, ao escolher pelo voto os mesmos salafrários de sempre.
A verdade é que muito se ouve dizer em se mudar esse quadro, e não estamos falando de sentenças judiciais que condenam políticos, de parte das pessoas e instituições que orbitam ao redor deles, usufruindo das vantagens do submundo de acordos e conchavos. De nada adianta ações enérgicas no ambiente macro, se o vício permanece no ambiente micro.
Pesquisa divulgada nas últimas semanas revela que a corrupção aumentou no País na opinião de 54% dos brasileiros. Os dados são do Barômetro Global da Corrupção, pesquisa elaborada pelo movimento Transparência Internacional. O levantamento registra que 90% da população pensa que a corrupção no governo é um ‘grande problema’ e revela ainda o impacto da corrupção entre os cidadãos: 11% dos brasileiros já pagaram propinas ao utilizarem serviços públicos e cerca de 40% já receberam ofertas em troca de votos. A pesquisa foi realizada com mais de 17 mil cidadãos em 18 países da América Latina e do Caribe. No Brasil, o levantamento foi conduzido pelo Instituto Ipsos, que realizou entrevistas presenciais com mil pessoas, entre fim de fevereiro e início de abril.
Nestas terras tupiniquins, especificamente, instituições que geram maior desconfiança na população são o Congresso Nacional, os governos (local e federal, atentem bem, prefeituras e câmaras) e a Presidência, segundo a pesquisa. O levantamento também apontou que há insatisfação do povo com as medidas adotadas pelos governos da América Latina e do Caribe em relação ao controle da corrupção. Segundo a pesquisa, 57% acham que o governo de seus países não estão fazendo um bom trabalho na abordagem dos riscos de corrupção.
De acordo com os resultados do expediente geral, foi apontado que, em 2018, nos 18 países abarcados pela pesquisa, aproximadamente 56 milhões de pessoas pagaram propina por serviços como assistência médica ou educação. A polícia é o serviço público mais propenso a exigir e ganhar propina, indicou o Barômetro. O Brasil apresentou uma taxa de suborno geral de 11%, atrás de Barbados, 9%, e Costa Rica, 7%. O País apresenta ainda a terceira maior taxa de compra de votos (40%). E ocupa o terceiro lugar em uma lista diferente, sobre a porcentagem dos que acreditam que pessoas comuns podem fazer a diferença na luta contra a corrupção. A média dos 18 países ficou em 77%, mas, segundo o levantamento, 82% dos entrevistados brasileiros acreditam ser parte importante no combate à corrupção.
Em meio a esse quadro devastador, muitos querem o fim dela, mas apenas no discurso genérico, pois no cotidiano, outros tantos a levam adiante. E não se pode fugir à realidade: o Brasil é excessivamente corrupto e está muito distante de mudar esse cenário.