“Os 300”

Antes de ser presidente da República, Lula disse em 1993: “Há no Congresso uma maioria de 300 picaretas que defendem apenas seus próprios interesses”. Frase lapidar, mas que certamente está com esse número defasado, passados quase trinta anos.

No decorrer desta semana essa tal maioria referendou a picaretagem à qual Lula se referia, ao trazer de volta ao cenário eleitoral a famigerada ‘coligação partidária’, que havia sido banida em 2017. Ou seja, na eleição para o primo pobre entre os legisladores, também conhecidos como vereador, era proibido. Para o ano que vem, quando esses mesmos deputados vão tentar a reeleição, vale a regra antiga.

A coligação serve exclusivamente para eleger os mais conhecidos, os mais ricos e os que estão no poder. E também para massagear o ego dos incautos e ignorantes, que aceitam se candidatar e servir de escada para os espertalhões.

É uma indecência o comportamento dos deputados, e a esperança, ainda que pouca, reside no Senado, que vai discutir e votar essa iniciativa parida na Câmara.

Em se tratando de deputados e senadores, quando se imagina ter dado dois passos adiante, logo descobre que foram cinco para trás.

Ter mandato eletivo no Brasil é o melhor dos mundos: altos salários, mais de uma aposentadoria, regalias de toda natureza, imunidade parlamentar, barganhas com outros poderes, enfim, um sem-número de situações muito distante dos mortais.

Não se pode, sob pena de ser tratado como imbecil, esperar que os políticos brasileiros (a maioria) mude e trabalhe em favor da coletividade. Boa parcela dos eleitores, que aumenta a cada pleito, está deixando de votar, justamente para não corroborar com essa indecência parlamentar que nasceu junto com a República. Há quem garanta que surgiu ainda ‘Nos Tempos do Imperador’, parafraseando novela recém lançada pela Globo.

As abstenções ajudam partidos e candidatos nas eleições. Mas o eleitor, ao menos, fica com o sentimento de não ter contribuído com essa ‘casa da mãe Joana’ em que se transformaram legislativos municipais, estaduais e federais.

No cinema, temos”300”, filme do diretor Zack Snyder, sobre a verdadeira história de Sparta, cidade grega. Por aqui, segundo Lula, também temos mais que “300”, que diariamente escrevem a história política desta pobre Nação.