Se você passar com seu filho pela praça do Rosário, muito provavelmente vai abrir um sorriso. Talvez a criançada queira descer do carro ou atravessar a rua para ir até lá. Linda e florida a praça já estava, mas para esta Páscoa uma incrível e inspiradora decoração está adornando o largo. Aquele coelhão olhando a cidade deixou a semana mais alegre por ali, apesar dos transtornos das obras nas ruas do centro.
O orelhudo parece estar observando o vai e vem da Rua Nicolau Antônio Brilha, mas na verdade é só uma impressão lúdica, pois no fundo o nosso coração quer mesmo é atualizar no tempo aquele domingo de manhã em que o túmulo ficou vazio.
O jardim de páscoa traz um clima gostoso que a cidade anda celebrando em cada época do ano, de forma a fixar a importância das datas. Páscoa é celebração e a figura do coelho e dos ovos pode ser um jeito pedagógico para as lições de fé que precisamos plantar no coração das pessoas, não somente as crianças. Outro dia a gente sequer podia chegar perto uns dos outros e as máscaras escondiam os nossos sorrisos.
Neste abril, felizmente, podemos posar para fotografía e as risadas revelam os dentinhos faltando na boca dos pequenos e os nossos amarelados insistem em aparecer diante da ternura dos enfeites.
Antigamente minha mãe levava a gente na missa das dez. Eu contava os segundos de cada rito esperando que o Padre Aloísio não falasse muito na homilia. Um beijo aos pés da Senhora do Desterro e íamos para casa, onde debaixo da cama, pela manhã, tínhamos deixado uma caixinha de sapato. Milagrosamente quando puxava a caixinha, já não estava mais vazia. Dentro dela o coelhinho havia deixado um ovo de páscoa para cada um, como prêmio por ficarmos quietinhos na igreja. Hoje eu sei que não era caixa e nem era ovo: era o Cristo e sempre foi.
Minha mãe não percebia, mas removia as pedras nos túmulos do mundo e ressuscitava a esperança da gente no gesto de mostrar o extraordinário arraizado no mistério da salvação que não se encerrava nos tecidos vermelhos dos altares do nosso templo, mas que se descotinou durante toda a vida até hoje.
Voltando ao coelho, eu te convido a dar uma passadinha lá na praça. Se puder, dedilhe o terço e ofereça pelas nossas famílias: a minha e a sua. Claro, te desejo uma feliz páscoa!
Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”