O nome da dor

Logo que a gente chega ao mundo e vai se familiarizando com os sons, começa a associar o nome das coisas. Tudo vai se conectando e normalmente começa por pai, mãe e seus diminutivos. Talvez sejam as primeiras palavras de quase todos os seres humanos. Referência de segurança e vínculo com o mundo. Tão forte que a psicologia diz que no início, os bebês acreditam ser parte do corpo da mãe, em um uníssono de amor e genética. No minuto do nascimento já aprendemos a dor da separação. O cordão é desfeito. O laço físico fica na lembrança e um novo caminho começa. Com ele o frio, a fome e todas as emoções se descortinam.

O poeta Vinícius de Moraes sempre dizia que viver é sofrer e que o amor é como a rosa da qual não se consegue ficar apenas com a beleza, sem a vivência da ardência dos espinhos. Fato é que chegamos a essa existência sem manual. Despreparados para a dor e sem saber como lidar com ela. Ainda assim, sofremos e continuamos vivendo. As dores do mundo só se aprendem quando se prova da taça amarga de cada uma delas. Neste momento, sentimos o peso do nome que recebem. Na língua portuguesa a palavra saudade exprime um tipo de melancolia causada pela distância. A mulher que perdeu seu marido, conhecida será por viúva. O filho que por naturalidade da vida perde os pais se tornará órfão.

Ocorre que há uma dor que de tão profunda, surge como filete no corpo e na alma. Fere como um punhal transpassando as entranhas.  Essa não tem nome. É a dor do homem que viu partir o seu filho. Antes da hora enterrou seu rebento. Esse homem sou eu e esse absurdo eu experimento um pouco por dia há seis anos. O imponderável que chegou repentino, quebrando a lógica do tempo levou meu ‘Ozorinho’ antes do combinado. Uma imensa dor que no idioma não encontra um signo linguístico capaz de descrever a falta. Tão absurda que nem sei se a dor é humana. Tão contrária que nem mesmo o tempo diminui o pesar. Que ritual algum organiza o luto ou conforma.   Que não tem tamanho, epitáfio e explicação. Que sequer tem nome. Apenas dor.

 

Ozório Mendes é advogado militante na Comarca, foi vereador e presidente da Câmara na gestão 1983/1988