O descaso tem preço

A estagnação vivenciada por Mairiporã é inquestionável. Os efeitos em seu crescimento demonstram que os governos que passaram pelo Palácio Tibiriçá transformaram os compromissos assumidos durante as campanhas em eternas promessas.
Mairiporã, não é novidade, tem problemas de sobra. Sem planejamento urbano, principalmente no saneamento básico, o esgoto de 90% da cidade é jogado diariamente em córregos e no rio Juqueri, que desemboca na represa Paiva Castro. E não há qualquer dicotomia: não se coleta esgoto nem em condomínio de casa de luxo, nem em bairros mais afastados. Isso é o que se pode chamar de negligência do poder público e também das autoridades responsáveis em fiscalizar o meio ambiente.
Trata-se, pois, de crime ambiental sem precedentes numa cidade cujo território (80% dele) está dentro da área de proteção aos mananciais. Em meio a esse quadro absurdo, há quem consiga desenvolver o raciocínio de que a cidade pode vir a ser um polo turístico. Pode, mas vai demorar. Vender essa imagem hoje é colaborar com a negligência.
A Sabesp deveria ter sido multada há muito tempo e cobrada a fazer o que é de sua competência. Só que há mais de 30 anos não é incomodada. Em 2015 firmou novo contrato com a cidade para a concessão dos serviços de água e esgoto e, até agora, de concreto, liberou dinheiro para a construção do parque linear. Água e esgoto continuam como antes: a maioria dos bairros na dependência de caminhões-pipa e absurdos 70% da cidade sem coleta de esgoto. Não se faz necessário descer a detalhes sobre tratamento dos dejetos.
Quando se houve falar em invasão de terra, criação de loteamentos clandestinos e desmatamento, os ambientalistas são rápidos em protagonizar escândalos, procurar as mídias e denunciar esses mal feitos. O crime pela falta de saneamento básico, no entanto, não merece o mesmo tratamento.
Se as autoridades do município (Executivo, Legislativo e Judiciário) não se debruçarem sobre o meio ambiente e não cobrarem da Sabesp o fim do descaso com o saneamento básico, a população seguirá como vítima não só da falta de redes de água e esgoto, mas das enfermidades que isso acarreta.
O primeiro contrato com a Sabesp, assinado em 1969, até teve a desculpa de que ninguém sabia do que se tratava. Era o início da concessão dos serviços de água e esgoto, que naquele tempo os municípios mal conseguiam administrar.
Agora a conversa é outra. A Sabesp tem que tirar Mairiporã dessa situação. Mas as autoridades precisam se mexer e fazer a parte que lhes cabe.