O caçador de pipas

Claro, me lembrei dessa obra não por acaso nesta semana. Comentar a imagem daquelas aeronaves lotadas ou de corpos despencando no céu, ou ainda opinar politicamente as barbaridades no Afeganistão, deixo para outros espaços.

Aqui quero comentar que se você não leu ou ouviu falar, fique atento! Vale a pena. Anos atrás fui aconselhado a refletir o filme sob um determinado aspecto. O de que precisa ser feito não pode esperar. É como chorar em cima de um caixão. O morto não vai reagir. Acabou. Está gelado e em silêncio.

Quando teve a oportunidade, aquele menino ficou omisso vendo seu amigo padecer, ser humilhado e cair em desgraça. Observou indiferente a maldade humana atingir o próximo sem reagir. Quando se esperava empatia, agiu com desprezo diante da horrenda página que estava sendo escrita na vida de seu irmão.

É duro fazer de tudo por alguém sem esperar nada em troca. No fundo, a gente sempre espera a reciprocidade do bem que plantamos. A vida é plantio, mas nem sempre se colhe exatamente no solo que imaginamos. O criador, o único! Esse é certo que não nos desampara. O resto é falho. O ser humano é falho.

O amigo que me aconselhou, comparou a cena do filme a um episódio da minha vida em que quando imaginei que alguém me defenderia, preferiu me deixar pelo caminho.

Eu que sempre dizia: “por você eu faria mil vezes”, chorei uma madrugada toda pelo abandono, frieza e oportunismo. Ainda bem que o tempo é incrível remédio que, literalmente, se não mata, “engorda”. Nem que os quilos sejam no corpinho alheio.

Não sou chegado em vinganças, mas juro que dar a volta por cima é bastante saboroso.

Os céus de Cabul estão diferentes novamente. Pelo visto, as pipas não fazem mais parte do cenário das infâncias nestes próximos tempos, mas o sol sempre brilha e as pipas sempre vão para algum lugar.

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb