O advento do “mimimi”

Se o Papa disser que é preciso amar os irmãos, alguém vai dizer que depende. Depende do tipo de amor e a quem é dado esse amor. Alguém vai dizer até que amor não existe. Que é coisa inventada por essas religiões ocidentais que insistem em explicar os mistérios etéreos de um jeito simplista.

Se eu acordar com vontade de cantar, posso ter a audácia de dizer: “Se essa rua fosse minha eu mandava ladrilhar”. Pronto! Daqui a pouco alguma associação de bairro vai me acionar reivindicando o logradouro e questionando como pude eu ser tão egoísta a ponto de almejar a propriedade de um bem público que sequer poderia sonhar em modificar o pavimento. Antes de ser mandado embora da cidade, talvez conseguisse argumentar que falei por falar e enquanto escrevia, na verdade cantarolava porquê na varanda batia um solzinho preguiçoso pela manhã.

Para aprender palavras com o sufixo “-ista”, basta declarar o voto em algum candidato à presidência. Então esteja pronto para todos os rótulos que puder imaginar. Seja quem for o escolhido você vai desagradar muita gente. Receber uns bloqueios até. Seu critério fazer o mesmo! Quando o assunto é política, o bicho pega. Pega mais que futebol, que anda meio morno e até engraçado. A pandemia fez bem nesse sentido. Bom seria se as provocações fossem só por esses “memes” cada vez mais hilários quando um rival triunfa em cima de outro.

Infeliz de quem elogiar o alvo das nuvens por onde passam os aviões que me encantam. Logo alguém se ofenderá pelo elogio ao branco, pois vai entender que o gesto é em detrimento das outras cores, mais importantes, mais significativas e mais merecedoras.Tem gente que despeja na rede o dia todo. Não tem o que dizer, mas diz. De si mesmo e de todos, como se dominasse todo e qualquer assunto. Esses normalmente quando esgotam todas as possibilidades, viram comentaristas climatológicos. Geralmente para esse tipo nada está bom.

Enfim, só desejo que a internet seja mais leve e que a gente não se ofenda tanto com o contraditório. Que eu esteja tão livre que até a hipocrisia me faça sorrir. Que eu esteja tão leve que as reclamações não tirem minha paz. Que de tanta grandeza de espírito, nada tire o sossego e possa então adormecer me sentindo feliz.

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb