Noite estrelada

Recentemente fui em mais uma exposição de Van Gogh. Novamente fiquei parada diante do quadro que hoje leva o título desta coluna, Noite Estrelada. Não sei exatamente por quê. Não tem a beleza delicada dos clássicos, nem a técnica precisa dos acadêmicos. Mas tem algo que me segura todas as vezes que o encaro. Algo que me toca antes de eu entender. Mas minhas sensações e devaneios à parte, falemos, então, do autor da obra: Vincent Willem Van Gogh.
Holandês. Pintor. Solitário. Irmão. Sensível. Incompreendido. Gênio. Muitos adjetivos compõem este artista, mas seguramente aquele que mais o resume é extraordinário. Van Gogh não foi um menino prodígio e só descobriu sua vocação aos 27 anos. Sua vida foi marcada por conflitos internos, isolamento e uma busca constante por sentido.
Abandonou a carreira religiosa para seguir a arte, mas não encontrou nela a aceitação que tanto desejava. Viveu a maior parte de sua vida com dificuldades financeiras, crises emocionais e isolamento social.
Seu porto seguro era o irmão Theo, quem lhe emprestou dinheiro por incontáveis vezes e deu-lhe conselhos em momentos difíceis. Confesso que uma das partes de sua vida que mais me chama atenção é essa: a proximidade e cumplicidade que Vincent e Theo partilhavam.
Ao longo dos anos, diante das 652 cartas que redigiu ao irmão, Van Gogh confidenciava suas angústias, seu afeto, sua alma. A ligação entre eles era absoluta, tanto que, por coincidência ou não, Theo morreu apenas seis meses após Vincent, como se um não pudesse resistir nessa vida sem o outro.
Inquieto e melancólico, Van Gogh lutava contra a depressão e surtos psicóticos. Em um dos momentos mais marcantes de sua biografia, cortou parte da própria orelha após uma briga com o também pintor Paul Gauguin.
Depois disso, passou por diversas internações. Mesmo internado, nunca deixou de pintar – como se a arte fosse seu último elo com a vida. Van Gogh é, para mim, o retrato da contradição: alguém que produziu beleza enquanto carregava dor. Que se apagou cedo, mas deixou uma luz que atravessa séculos.
É irônico pensar que em vida vendeu apenas um único quadro, morreu pobre e atormentado, aos 37 anos. Sua história doí, porque mostra como, às vezes, o reconhecimento é tardio. Me pergunto o que teria acontecido se o mundo tivesse escutado Van Gogh enquanto ele ainda vivia?
Ele foi chamado de louco, rejeitado, ignorado. Acredito que o mundo ainda não estivesse pronto para tanta intensidade – se é que hoje ele está.
Vincent viveu intensamente como se cada pincelada fosse um grito por compreensão. Com uma paleta vibrante e traços que pareciam pulsar, transformou campos de trigo, girassóis e noites estreladas em espelhos da alma. Está aí, voltamos ao quadro que tanto me chama, Noite estrelada.
Sua obra não é apenas visual, é visceral. Seu desenho traduz em tela todo seu amor, mas despeja também sua solidão e sofrimento. Van Gogh deixou muito mais que pinturas. Deixou a coragem de ser vulnerável num mundo que prefere máscaras. Deixou o lembrete de que arte não é produto, é alma. E que sentir, mesmo quando machuca, ainda é o que nos mantém vivos. E ali, diante do quadro, entendo, então, por que parei. Não era só arte. Era encontro.
E eu, como vocês já sabem, prefiro viver assim, sei que sou mais feliz desta forma… sentindo a arte, o amor e, se necessário, a dor e tomando para mim a mensagem que Van Gogh deixou: a pintura, ou no meu caso a escrita, não precisa ser perfeita, precisa ser verdadeira e assim ela sempre será. E a você, caro leitor, se não conhece as obras do artista, fica aqui minha recomendação, porque sua arte é mais que pintura, é alma!

Drielli Paola – @drielli_paola. Servidora Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo. Bacharel em Direito, com pós-graduação e extensões universitárias na área jurídica. Entusiasta de psicologia, história, espiritualidade e causa animal. Apaixonada pela escrita.