Nem Deus salva

Você já deve ter ouvido alguma pequena narrativa a respeito. Como ocorre com os ditos populares, há versões diferentes, mas fato é que “nem Deus salva quem não quer ser salvo”. De alguma maneira, a crença leva ao senso comum de que Deus a todo tempo lança cordas, troncos ou outras metáforas que representam as oportunidades que a vida nos entrega para nos safar das situações ruins. Para os momentos em que estamos nos afogando nos rios da existência. Tantas vezes não vemos e um dia talvez Ele próprio nos diga que fez de tudo, mas que faltou a nossa própria vontade.

Deus não salva quem não faz nada para ser salvo. Isso faz parte de uma reflexão, fruto de um diálogo com um leitor desta coluna, o S.r. Nelson, que encontrei nesta semana e que muito gentil me fez elogios quanto a oratória.

Juro que me surpreendo quando encontro os leitores do Correio e fico imensamente feliz com o carinho. Ele me lembrou que não há como ajudar quem não sabe ou não quer ajuda. Há quem não admita que precisa por vergonha talvez, de expor a fragilidade ou orgulho ao revelar estar necessitado. É preciso deixar claro a nossa prontidão ao próximo e estar a serviço, mas diante da negativa o melhor mesmo é se afastar.

Um dos grandes equívocos das pessoas é achar que o amor permite tudo ou suporta tudo, sem que seja necessário impor limites. Outra mística sobre ajudar alguém vai de encontro a confusão que isso cria. Ajudar não é tirar à força o outro da situação em que se encontra, livrando-o do sofrimento. Acabei aprendendo que ajudar, muitas vezes é não ajudar. Permitir que o próximo pague o preço das suas escolhas e atos, pois a medida que vou blindando o outro, acabo atrapalhando o processo natural de aprendizagem.

Pais que criam filhos em cúpulas, comprometem seu crescimento e amadurecimento. Os filhos se desenvolvem adultos despreparados emocionalmente. A vida continua sendo a arte da semeadura, mas quando colhemos frutos amargos, quase que imediatamente temos a tendência de culpar e responsabilizar Deus, o destino, a família que não nascemos, a estatura que não temos, a condição social que não conquistamos e até o casamento que poderíamos ter feito.

Já deixei de passar a mão na cabeça de muita gente e permiti que pagassem o preço da cabeçada. Claro, sempre deixando claro que estou ao lado para quando quiser ou for necessário. O peso das escolhas só pode ser sentido por quem está escolhendo. Eu mesmo, se não fizer caminhada, comer menos coisas gordurosas e tomar bastante refrigerante, estarei fazendo a escolha de chances gigantescas de sofrimentos a médio prazo com problemas de saúde e uma vida abreviada.

No meu caso, vou estar atento aos sinais de Deus e não deixar que passem de forma que eu não me salve por distração. Então Deus, estou aqui. Fique a vontade para me salvar!

 

 

 

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”