O termo que dá título a este editorial, segundo o dicionário, significa ‘ato de negar-se a acreditar em uma informação estabelecida em áreas como a ciência e a história”.
No decorrer desta semana, ao ser cobrada por estratégias para evitar o desperdício de doses da vacina contra a dengue, com prazo de validade até o final deste mês, a senhora ministra da Saúde, Nísia Trindade, rapidamente respondeu: “Já estamos fazendo a redistribuição das doses que sobraram, mas, se não houvesse um negacionismo às vacinas, certamente as famílias estariam levando as suas crianças e seus jovens para serem vacinados”.
Todas as ações do novo governo brasileiro que não são aceitas, recebem a pecha de negacionistas. O povo é obrigado a engolir tudo o que emana dos mais altos escalões da República.
Essa história de negacionista surgiu durante a pandemia da Covid. Opiniões contrárias à imunização contra a doença, inclusive de médicos e cientistas, estavam fora do tom. Era negar a cura.
A primeira dose da vacina, de inúmeros institutos, seria suficiente para proteger os brasileiros que se dispusessem a tomá-la. O descrédito veio logo em seguida, com a recomendação de uma segunda dose. Nem bem o cidadão se acostumou à ideia, e veio a necessidade de um reforço (terceira dose), que trouxe à reboque o segundo reforço (a quarta dose). E a coisa não parou por aí: logo chegou ao mercado a vacina bivalente, para enfrentar outras cepas do coronavírus. Uma parece não ter sido suficiente, pois estamos na segunda dose da mesma bivalente, e pelo que se observa, vai ser uma vacina que fará parte do calendário anual.
O problema, como se pode deduzir, não é questão de negacionismo, é de descrédito do povo com um vai e vem interminável de vacinas. A da Covid acabou por desacreditar todas as outras, como se tem visto nas estatísticas oficiais e nos apelos desesperados das autoridades em favor da vacinação.
Ao longo dos últimos dez anos o percentual de pessoas imunizadas despencou de forma vertiginosa, e estancar esse quadro se tornou um problema quase insolúvel para o governo.
As justificativas necessárias sobre as seguidas doses da vacina contra a Covid, que repercutiu negativamente nas pessoas, e por extensão recaiu sobre as outras imunizações que constam do calendário anual, obrigatório para crianças e adolescentes, nunca foram dadas. As explicações sempre foram as mais simples possíveis: “é necessária mais uma dose”. E depois: há necessidade de mais uma, e assim por diante.
A guerra que se travou durante o surgimento da Covid no País, entre o governo de então e a oposição, levou a sociedade brasileira a optar pela neutralidade. E, de certo modo, não acreditar nos poderes das vacinas.
Retrato cruel, mas fidedigno, num País cuja Saúde é tratada como serviço de segunda classe.
Desde a chegada de Pedro Álvares Cabral, os governantes fazem a opção pela medicina curativa, e não preventiva. E já se passaram 524 anos.