Não morre mais!

Certeza de que já ouviu essa frase: “Não morre mais!”, ao chegar em algum lugar sem avisar. Quando a gente fala de alguém e a pessoa chega, costumamos dizer isso. Gosto muito dos ditos populares, pois me lembram coisas boas da infância. Belchior cantava “Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”, na canção “Sujeito de sorte”. Lembrei de tudo isso ao compor essas linhas e sei que gostam quando escrevo reflexões.

Falando de morte, aprendi com o Professor Cortella que Mário Quintana desejou ter escrito e está escrito em sua lápide a frase: “Eu não estou aqui”. De fato, há quem não morra e será meu caso, pois é isso que tenho plantado. Decidi que mesmo que me matem, pensarão ter eu morrido, mas não! Estarei eu mais vivo que nunca. Não se trata de análise biológica, mas sim por haver algo em mim que persistirá.

Farei falta, pois não fui banal e olha que há quem se não existisse, faria falta alguma. Estou em muitas pessoas e se morrer é ser esquecido eu tenho certeza de que não morrerei. Não decidi ainda, e licença para utilizar o termo “ainda”, já que não sei quanto tempo resta e posso estar atrasado para essa decisão, mas fato é que não tenho ideia do que gostaria de ver escrito na minha lápide. Não sei onde será, pois atualmente não conto com jazigo e nem ao menos tenho estado adimplente com as parcelas do plano funerário. Devo intrinsicamente estar fugindo do epitáfio.

Provável que algum bom amigo me ofereça um espaço ao lado de um ente seu. Então seremos vizinhos e irmãos. Espero que não seja este o único terreno que poderei chamar de meu.

Certo que terei muito mais que os onze amigos de Brás Cubas no dia do enterro, ainda que esteja caindo uma chuvinha miúda. Não me atrevo a me denominar um defunto autor, já que espero que o dia demore a chegar e terão sido muito mais que os sessenta e quatro anos do célebre personagem de Machado de Assis.

O que importa é a vida e tanto faz a morte e sim como estou vivendo essa existência. Não quero ninguém feliz quando eu me for. Quero mesmo gente chorando, fazendo escândalo e gritando: “me leva junto”! E todos saberão que enquanto alguém chorar ao ver uma foto, ler algo que escrevi e nem que seja uma lágrima amarga recordar a dor da minha ausência, estarei vivo.

Não poderei assombrar ninguém, o que é uma pena, pois confesso, adoraria nem que por pouco tempo vagar por aí vendo esse mundo e soprar um ventinho gelado de casa de uns e outros. Se pudesse puxar o pé, então, aí seria demais!

Deve ser triste saber que nada valeu a passagem por aqui. Não será meu caso e nem sei se terei pena de quem estiver nesta condição, já que cada um escolhe seu caminho e no meu há quem para me olhar, teve que passar a vida inteira lançando olhares para o alto. Razão de tantas raivas e inveja que deixei no coração de uns pobres.

Não morro mais e os que tentaram me matar, fracassaram sumariamente. Não houve veneno, fórmula ou magia que sobrepusessem a grandeza do que fui capaz de produzir e verbalizar, esparramando no mundo o dom que Deus me deu. Descanso em paz!

 

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”