Nações Unidas alerta para relação entre fome e mudança climática

No último sábado (16) foi comemorado o Dia Mundial da Alimentação. Organismos internacionais, governos e entidades da sociedade civil realizaram atividades com o objetivo de chamar a atenção para o desafio de combater a fome e a insegurança alimentar no mundo e em cada país, como o Brasil.

Neste ano, a mobilização teve como tema ‘Melhor Produção, Melhor Nutrição, Melhor Meio Ambiente e Melhor Qualidade de Vida’. Esta edição da iniciativa questionou a relação entre as mudanças climáticas e a produção de alimentos no mundo.

A Organização das Nações Unidas, por meio de seu braço para agricultura e alimentação (FAO), divulgou mensagens lembrando que ainda há mais de 2 bilhões de pessoas no mundo que não conseguem ter acesso a uma alimentação saudável.

O Dia Mundial da Alimentação, lembrado anualmenhte, serve para conscientizar as pessoas sobre a importância de garantir que todos tenham acesso a alimentos suficientes, seguros, diversificados e nutritivos.

Clima – As mudanças climáticas se manifestam de diversas formas, pelo aumento da temperatura da Terra, escassez de água e eventos extremos como enchentes e tempestades de areia, como recentemente registradas em São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Artigo publicado na revista Nature, por pesquisadores da Alemanha, Estados Unidos e Suíça, apontou que as mudanças climáticas induzidas por seres humanos já impactaram 80% da área e 85% da população da Terra.

Em setembro, a entidade de pesquisa britânica Chatham House divulgou relatório alertando que as mudanças climáticas podem ser irreversíveis entre 2040 e 2050 se não houver redução das emissões de carbono.

O tema será um dos assuntos centrais da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 (COP26), que ocorrerá entre 31 de outubro e 12 de novembro na cidade de Glasgow, na Escócia.

Segundo o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP, na sigla em inglês), a crise climática ocasionará um aumento exponencial da fome se não houver ações para proteger as comunidades dos choques climáticos.

Brasil – No País, as ações da mobilização começaram semana passada. Na quarta-feira (13), foi feita uma projeção no prédio do Congresso Nacional com imagens de alimentos para marcar o dia e buscar colocar a pauta para as autoridades políticas.

Segundo Rafael Zavala, representante da FAO no Brasil, a pandemia revelou a fragilidade das sociedades, com crise da saúde, recessão econômica, aumento da insegurança alimentar e da desigualdade, atingindo sobretudo as populações mais vulneráveis, como ocorre no Brasil.

O representante do Programa Mundial de Alimentos da ONU no Brasil, Daniel Balaban, pontuou que a mudança envolve tratar a alimentação como direito básico. “Promover a agricultura familiar, fortalecer programas como os de alimentação escolar e estimular a produção e o consumo sustentáveis devem estar entre nossas prioridades. Hoje, mais do que nunca, precisamos unir forças para enfrentar os desafios juntos”, coloca.

Na avaliação do Coordenador de Amazônia do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Rodrigo Noleto, o modelo agropecuário brasileiro provoca impactos nas mudanças climáticas com a expansão desenfreada de plantações e criações de animais, que debilitam o meio ambiente. Seria importante, de acordo com ele, uma valorização maior da agricultura familiar e povos e comunidades tradicionais, inclusive por meio de políticas públicas, como ocorre no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), 19 milhões de brasileiros passaram fome no ano passado e mais da metade das casas (cerca de 116,8 milhões de pessoas) vivenciou algum tipo de insegurança alimentar.

Ações governamentais – Em nota, o Ministério da Cidadania afirmou que tem atuado para fortalecer os programas sociais e criar uma rede de proteção para segmentos mais vulneráveis. Nos programas Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada e Auxílio Emergencial foram investidos R$ 102,02 bilhões em 2020. Este ano, o auxílio emergencial teve seu valor reduzido.

Em agosto, o governo federal enviou ao Congresso a Medida Provisória 1.061, que instituiu o programa Auxílio Brasil, que revoga o Bolsa Família e cria novos benefícios. Segundo o Ministério, a proposta terá aumento do número de famílias atendidas e dos valores, embora esses números ainda não tenham sido divulgados.

Outra ação prevista na MP é o programa Alimenta Brasil, que reformulará o Programa de Aquisição de Alimentos, por meio do qual o Poder Público comprava produtos da agricultura familiar. Ainda conforme a pasta, será disponibilizado um auxílio a agricultores em situação de pobreza e pobreza extrema por três anos. O valor do benefício não foi informado. (Agência Brasil – Foto: Marcelo Camargo/ABR)