O aumento no custo dos insumos da construção civil e a queda no poder de compra das famílias impactaram os números do mercado imobiliário no país e as vendas de imóveis novos tiveram queda de 9,5% no terceiro trimestre deste ano, frente ao mesmo período do ano passado. Em relação ao segundo trimestre de 2021, a queda foi de 11,2%.
Os dados são da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) que apresentou os Indicadores Imobiliários Nacionais, estudo que traz informações sobre lançamentos, vendas, oferta final, preço, além da participação do programa Casa Verde e Amarela no setor. A pesquisa foi realizada em 162 cidades, sendo 20 capitais.
No acumulado do ano, entretanto, houve aumento de 22,6% nas vendas, se comparado com o período de janeiro a setembro de 2020. “O primeiro semestre já nos deu um gás e o ano vai fechar bom, mas o terceiro trimestre mostra queda muito forte nas vendas”, disse o presidente da CBIC, José Carlos Martins, ao apresentar os dados.
Segundo ele, a inflação de materiais e máquinas, pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), já passa de 30% no período de pandemia e os custos não foram repassados totalmente aos compradores, ou seja, ainda há margem para aumento no preço dos imóveis.
Ele explica que a falta de poder aquisitivo das famílias está segurando esse aumento, já que a inflação geral já chega a 10%, “mas não quer dizer que não vá acontecer mais na frente”.
Apesar dos bons números no acumulado do ano, Martins alerta que os custos dos insumos podem continuar afetando o setor, consequentemente na geração de empregos. “O emprego de hoje é a venda de ontem. Vamos fechar o ano com contratação de 360 mil a 400 mil novos empregos porque vendemos muito bem nos primeiros nove meses”, disse. “O emprego de amanhã depende da venda de hoje e ela caiu quase 10%, então temos que ter muito cuidado para não termos uma situação delicada no próximo ano”, ressaltou.
Em relação aos lançamentos, houve crescimento de 13,6% no terceiro trimestre de 2021 em relação ao mesmo período de 2020. Em comparação ao trimestre anterior, o aumento foi de 7%. No acumulado do ano, a alta foi de 37,6% nos lançamentos, frente ao resultado de janeiro a setembro do ano passado.
Segundo a CBIC, muitos empreendedores seguraram os lançamentos no ano passado em razão da pandemia e, com a melhora na situação sanitária, estão retomando os negócios. Com isso, o setor está chegando a um equilíbrio entre o volume de lançamentos e vendas.
Casa Verde e Amarela – Com o aumento do custo de produção e da inflação que afeta o poder de compra das famílias, o presidente da CBIC cita ainda a queda da participação no setor do Casa Verde e Amarela, programa do governo que subsidia a compra da casa própria por famílias de baixa renda. O programa, que chegou a representar quase 60% dos lançamentos e vendas no setor, hoje ocupa a faixa de 40% dos lançamentos e 47% das vendas nas cidades pesquisadas.
Houve queda no programa tanto em lançamentos quanto em vendas, se comparado ao segundo trimestre de 2021 e também ao terceiro trimestre de 2020, bem como nos lançamentos no acumulado dos nove meses do ano, frente ao mesmo período de 2020. As reduções variaram de 10,7% a 19,9%. Apenas nas vendas acumuladas de janeiro a setembro houve crescimento, de 10,4%, em relação ao acumulado do período no ano passado. Segundo Martins, o impacto do aumento dos insumos é maior nos imóveis populares.
Da mesma maneira, outros mercados suportam o aumento do preço das unidades e as construtoras têm mais margens para fazer adequações e viabilizar os lançamentos dos projetos.
Intenção de compra – O estudo da CBIC apresentou, ainda, números sobre a intenção de compra de imóveis da população. De acordo com o levantamento, a intenção caiu 7% no terceiro trimestre, em relação ao trimestre anterior e 39% dos entrevistados demonstraram interesse em adquirir um imóvel no prazo de até três anos.
Antes da pandemia de covid-19, a intenção de compra estava em 43% e chegou a cair para 20% no pior momento da crise sanitária, em abril do ano passado.
Entre os fatores que podem afetar a decisão de compra, o aumento inflação foi apontado por 45% dos entrevistados, seguido pelo cenário político complicado (31%) e a preocupação com o desemprego (24%). O aumento das taxas de juros, o baixo crescimento econômico do país e a pandemia de covid-19 também foram razões citadas pelas 1,2 mil pessoas entrevistadas.
A pesquisa teve parceria do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) com a Brain Inteligência Estratégica. (Agência Brasil – Foto: Diego Moreira/GSP)