A imaginação é uma alavanca que leva o ser humano a realizar os feitos mais inusitados: imagina-se que o homem pode voar, cria-se o avião; imagina-se que o homem pode chegar ao espaço, cria-se o foguete. Filmes, livros, desenhos, obras de arte, são todas expressões da grande capacidade do ser humano de criar cenários e situações dentro de sua própria cabeça. E não há fase em que a imaginação está mais presente em nossas vidas do que na infância: nos sonhos, nas brincadeiras, nas vontades e, principalmente, quando estamos no escuro.
Toda criança tem medo do escuro. Algumas mais, outras menos, mas não existe pequeno corajoso que aguente, sem tremer, ficar sozinho no breu da noite. Existe sempre um abajur, uma frestinha de luz entrando pela porta aberta ou um bichinho de pelúcia para criar uma sensação de proteção.
Minha prima Eduarda, de 10 anos, por exemplo, morre de medo do escuro. Ela não dorme sozinha e às vezes acorda assustada: “O que foi esse barulho que ouvi no meio da noite?”
No escuro está o imprevisível, aquilo que a gente não consegue enxergar, aquilo que a gente não sabe o que é. E, quando a gente não sabe o que esperar, nos resta apenas imaginar. Imaginar o que está por vir, imaginar o que pode acontecer, imaginar o que está escondido no meio da escuridão. Para as crianças pode ser um monstro, um bicho-papão ou uma alma penada tentando fazer algum mal. Mas é ilusão pensar que quando a gente cresce o medo do escuro vai embora. Talvez ele mude de forma, de aparência. Talvez não seja mais o medo de que algum monstro, escondido sorrateiramente debaixo da cama, pronto para pegar seu pé durante a madrugada.
Mas o medo do inevitável, do misterioso, do desconhecido, esse sim continua. É o medo dos escuros da vida; a questão é analisar o quanto esses medos nos impedem de dormir e de sonhar.