Mala

Separo as roupas. Quantas camisetas levo? Será que essa quantidade é suficiente? Não quero ter que usar a mesma todos os dias. E calça, precisa? Ou os shorts darão conta do recado? Afinal, vou passar frio? Ou calor? Cobertor ou protetor solar? São tantas decisões; eu não sou muito bom em tomar decisões. Não posso me esquecer do chinelo, é mais confortável do que usar sapato o tempo todo. Se não vou usar sapatos, preciso levar meias? Escondo dois pares em um bolso da mala, só por precaução. O travesseiro de viagem não vai ocupar muito espaço? Pego os itens de higiene, mas onde vou colocá-los? A mala já está mais cheia do que deveria. Devo levar mais uma? Não, não quero pecar pelo excesso de bagagem. Vou dar um jeito de amassar, quer dizer, colocar tudo em apenas uma.
Será que não esqueci nada? Já me imagino a notar que falta algo muito necessário no exato momento em que chegar lá. O carregador do celular? Os documentos? Comida? A viagem vai ser longa e ninguém merece passar horas com aquela pontada de fome incomodando o estômago. Resolvo checar a lista com as coisas que preciso levar, mas lembro que esqueci de fazê-la.
Na verdade, nunca fui do tipo de pessoa que faz lista. A única lista que me lembro de ter feito, quando ainda era criança, é uma lista com os nomes de todas as cidades as quais já visitei. O plano era, obviamente, conhecer o máximo de cidades, lugares, países possíveis para assim ter uma lista longa e completa. Quem não sonha em explorar o mundo?
Fecho a mala, finalmente. Sensação de alívio. Está tudo pronto, mas ainda faltam três dias para a viagem. Abro-a de novo, ainda não está na hora de finalizá-la de uma vez por todas. Penso, analiso, reflito, refaço as contas do número de dias da viagem para o número de camisetas. Coloco uma a mais, nunca se sabe quando a vida vai exigir uma nova troca.